DO "NEW YORK TIMES"
Enquanto Barack Obama justifica o ataque à Síria, sua cartada mais forte é enviar uma mensagem a outro país: o Irã. Se os EUA não respeitarem a "linha vermelha" que impuseram com relação às armas químicas, o Irã farejará insegurança e levará adiante, com maior ousadia, sua busca de armas nucleares.
Mas essa mensagem pode estar em conflito com o esforço para dialogar com o novo presidente moderado iraniano, Hasan Rowhani.
Isso representaria a mais recente expressão do longo conflito em Washington quanto à necessidade de encontrar equilíbrio entre a linha dura e a diplomacia no trato com um dos mais antigos adversários do país.
Na semana passada, Jeffrey Feltman, enviado americano à ONU, reuniu-se com o novo chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, para discutir possíveis reações a um ataque à Síria. Não houve grandes ruídos vindos de Teerã, o que despertou em Washington a esperança de atacar sem comprometer uma aproximação com o Irã antes da Assembleia Geral da ONU.
Talvez seja prematuro. Mesmo que Rowhani queira um acordo que encerre a disputa sobre o programa nuclear, é improvável que consigam implementá-lo. As negociações estão paralisadas desde o ano passado, e a autoridade final sobre a política externa cabe ao líder supremo, Ali Khamenei.
O debate sobre armas químicas despertou questões sobre a lealdade do Irã ao governo de Assad. Não há sinal de que Teerã vá recuar, ao menos por enquanto. Mas, como a economia iraniana está em frangalhos, o apoio militar à Síria é dispendioso.
Tradução de PAULO MIGLIACCI - UOL