Coalizão oposicionista deve se adaptar, dizem diplomatas ocidentais.
Reuters
A oposição síria está muito decepcionada com a decisão norte-americana de negociar um acordo com Moscou para eliminar o arsenal químico de Bashar al-Assad, mas diplomatas alertam a Coalizão Nacional Síria sobre o risco de o grupo perder o apoio ocidental se não conseguir se adaptar às novas realidades.
A divergência já fez com que parte da oposição síria se distancie dos EUA, e pode complicar os esforços internacionais para resolver uma guerra civil que já dura dois anos e meio, segundo diplomatas e fontes oposicionistas.
O conflito está numa fase de impasse no campo de batalha, e os rebeldes esperavam que os EUA alterassem esse equilíbrio em favor da oposição, caso Washington realizasse uma intervenção militar para punir Assad pelo suposto uso de armas químicas contra civis.
Mas na semana passada os EUA e a Rússia chegaram a um acordo para destruir o arsenal químico sírio, o que reduz a possibilidade de um ataque norte-americano. A estratégia de Washington agora parece ser usar o acordo como base para uma solução política mais abrangente para o conflito.
A oposição considera que o acordo com a Rússia implica na prática uma admissão da legitimidade do governo Assad, afetando os objetivos da rebelião síria e reduzindo a chance de que uma eventual conferência de paz resulte na deposição do regime.
O presidente dos EUA, Barack Obama, disse nesta semana que, embora ainda tenha como meta uma "transição" que tire Assad do poder, a prioridade é eliminar o arsenal químico.
Diplomatas que monitoraram no fim de semana uma importante reunião da oposição síria em Istambul disseram que a inflexibilidade da coalizão ao lidar com a mudança de prioridades diplomáticas citada por Obama pode privar a oposição do apoio ocidental.
O Exército Sírio Livre (ESL), facção rebelde que tem apoio árabe e ocidental, precisa de todos os aliados que puder ter para enfrentar o crescente caos nas áreas rebeldes. Enquanto isso, grupos ligados à rede terrorista da Al-Qaeda, também envolvidos no conflito contra Assad, enfrentam paralelamente combatentes rebeldes de orientação laica, e chegaram inclusive a derrotar militarmente unidades do ESL.
A reunião de Istambul, à qual diplomatas dos EUA não compareceram, deixou claro o dilema da oposição pró-Ocidente.
Diplomatas ocidentais que estavam presentes criticaram a reação negativa da oposição ao acordo sobre as armas químicas, que foi amplamente apoiado pela comunidade internacional.
"A coalizão precisa apenas fazer os ruídos corretos e perceber que há um jogo de grandes potências em curso", disse um diplomata. "Ela não pode ignorar que a eliminação das armas químicas de Assad é uma coisa boa, e o povo de Ghouta provavelmente está dormindo melhor agora", disse uma fonte diplomática, referindo-se a um subúrbio de Damasco bombardeado com armas químicas em 21 de agosto, num fato que foi o estopim para a reação norte-americana.
"Se não for assim, nossos Parlamentos não vão continuar para sempre nos conferindo mandados para apoiar a oposição síria. Já estamos precisando convencer os parlamentares de que nem todo sírio é um membro da Al-Qaeda."
Uma fonte graduada da oposição admitiu que a reunião da coalizão, encerrada na segunda-feira, não resultou em nenhuma nova estratégia. A oposição ainda está se recuperando do "tapa na cara" que foi o acordo entre EUA e Rússia, segundo essa fonte.
"Os norte-americanos nem sequer se dignaram a enviar um só diplomata para nos informar o que estavam fazendo com os russos", disse a fonte.
"Os Estados do golfo (Pérsico) não podem dizer isso abertamente, mas está se desenvolvendo uma tendência a ignorar os norte-americanos, e há uma grande lacuna agora entre os norte-americanos de um lado e os sauditas, turcos e Emirados do outro. Mesmo o Qatar não está satisfeito com o acordo, como se o problema fossem as armas químicas, não o regime de Assad."
Os países árabes do Golfo são os principais apoiadores financeiros da oposição, oferecendo armas a brigadas rebeldes por intermédio da Turquia.