Especialistas da ONU estão no país com a missão de confirmar ou refutar o fato do uso de armas químicas. Consequências da investigação terão importantes consequências políticas.
Nikolai Surkov, especialista em Oriente Médio - Gazeta Russa
Um grupo de especialistas da ONU está na Síria trabalhando nos locais dos supostos ataques químicos. A missão deve durar duas semanas, mas poderá ser prolongada. Em primeiro lugar, os especialistas da ONU, encabeçados pelo cientista sueco Oke Selstrem, visitaram Khan-al-Asal, nos arredores de Aleppo, onde, de acordo com dados oficiais, em 19 de março de 2013 foi realizado um ataque químico que matou 26 pessoas e intoxicou outras 86.
Anteriormente, especialistas da Rússia analisaram amostras tomadas em Khan-al-Asal e chegaram à conclusão que teriam sido os rebeldes que usaram armas químicas.
Os especialistas russos afirmaram que as armas químicas foram lançadas no míssil não guiado Bashair-3, fabricado por um dos grupos relacionados com o Exército de Libertação da Síria. Além de gás sarin, o míssil estava carregado com gás explosivo ciclotrimetil enetrinitamina, que não é utilizado em armas químicas convencionais.
O efeito militar desse tipo de ataque é muito duvidoso, mas teve um impacto negativo sobre os meios de comunicação internacionais. Se Assad decidisse não ter nada a perder e começasse a exterminar a oposição com a ajuda de gás, sua atitude seria mais parecida com a operação Al-Anfal no Iraque, quando Saddam Hussein ordenou aniquilar milhares de curdos.
À primeira vista, a tarefa da missão da ONU é simples: confirmar ou refutar o fato do uso de armas químicas e descobrir quem teria usado substâncias de combate tóxicas. No entanto, as conclusões dos especialistas podem ter consequências políticas de longo alcance.
A referência ao uso de armas químicas pelas tropas governamentais deu um pretexto para os EUA e os seus aliados ocidentais anunciarem que o regime ultrapassou a "linha vermelha".
É claro que, caso os peritos apoiem a versão russa dos fatos, é pouco provável que os EUA revejam a decisão de fornecimento militar.
As grandes potências não agem assim. No entanto, isso pode influenciar e mudar a opinião pública norte-americana, que é contra uma intervenção no país. As conclusões dos especialistas da ONU vão se tornar um argumento para as forças dos EUA e da Europa que não querem entrar no conflito.
Além disso, os acontecimentos na Síria dependem muito da posição das forças externas. Uma crise criada artificialmente não pode continuar sem ajuda externa. Sem ajuda financeira, militar e sem armas dos países ocidentais e dos países do Golfo, a oposição sufocará em dois meses. Além disso, a mesma coisa pode acontecer com o governo de Assad, que recebe ajuda do Irã e da Rússia.
Agora, a continuação da ajuda do exterior é questionada. Os EUA percebem que não haverá vitória rápida na Síria como na Líbia, e as forças que podem vencer não são muito leais ao Ocidente.
A Arábia Saudita também se torna cada vez mais nervosa. Riad, através do príncipe Bandar, pediu ao Kremlin o cessar da guerra e prometeu créditos e contratos para a compra de novo armamento russo. São necessários também os recursos para manter a estabilidade no Egito, cujo colapso ameaça desestabilizar toda a região.
Além disso, ninguém está forçando Obama a renunciar publicamente da oposição síria. É suficiente suspender o fornecimento de dinheiro. Em seguida, crescerá automaticamente a carga dos outros patrocinadores. A saída de apenas um patrocinador pode provocar um efeito dominó.
Nikolai Surkov é professor do departamento de Estudos Orientais do Instituto Estatal de Moscou de Relações Internacionais.
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Tensão aumenta em meio ao trabalho de peritos em armas químicas da ONU na Síria
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