Deutsche Welle
O exército da Síria possui o maior arsenal de armas químicas do Oriente Médio – a Organização para Proibição de Armas Químicas (OPCW, na sigla em inglês) estima que Damasco possua mais de mil toneladas de armamentos do tipo. A comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos, admite o uso desse tipo de armamento pelo regime de Assad, mas ninguém sabe precisar a quantidade e o tipo exato que foi empregado.
A suspeita é que o arsenal seja composto por substâncias que atacam o sistema nervoso, como o sarin, VX e tabun, além do gás mostarda. Para saber quais agentes químicos estão sendo utilizados, é preciso encontrar restos de mísseis que transportaram essas substâncias e recolher amostras do solo na região para análise, destaca o consultor de desarmamento de armas químicas e biológicas Ralf Trapp. Inspetores das Nações Unidas estão no país para fazer esse trabalho.
Apesar de esses elementos se dissiparem rapidamente na água e no solo, as substâncias produzidas na decomposição podem ser identificadas meses após os ataques. "Às vezes, as equipes levam também aparelhos de análises, com os quais é possível verificar o que foi encontrado naquele local", afirma Trapp.
As armas químicas também deixam vestígios nos corpos das vítimas. "Se for possível chegar rapidamente ao local do ataque amostras de urina também podem ser recolhidas. No sangue, esses gases permanecem por mais tempo. Contudo, esse material precisa ser analisado em laboratórios especiais no exterior", diz Trapp.
Gases que atingem o sistema nervoso
O gás sarin pode ter sido usado em alguns bombardeios na Siria, como acusa a oposição. Esse elemento foi descoberto em 1938 por químicos alemães que trabalhavam com Gerhard Schrader. O produto foi desenvolvido para ser usado como pesticida, mas, atualmente, é tido como um dos piores gases que atinge o sistema nervoso.
O sarin é líquido, sem cheiro e volátil – uma quantidade pequena pode ser fatal. Máscara de gás e roupa de proteção podem evitar apenas por meia hora a contaminação, já que ele é absorvido através da pele e dos olhos, além da respiração.
Outro gás utilizado em guerras é o tabun, também descoberto por Schrader, em 1936. A substância chegou a ser injetada em bombas durante Segunda Guerra Mundial, mas elas nunca foram disparadas. Essa substância age no sistema nervoso, é líquida e tem um cheiro que lembra frutas e amêndoa. Ela é absorvida pela respiração e pele.
Assim com o sarin, o VX também foi desenvolvido por químicos para ser usado como pesticida. Mas logo ficou claro que a substância era extremamente perigosa para a agricultura e, assim – o que a tornou interessante como armamento.
O VX atinge o sistema nervoso, é mais estável e dez vezes mais tóxico que o sarin e o tabun. Ele permanece na pele, em roupas e outros objetos por mais tempo e pode ser armazenado por um longo período.
Segundo a organização Médicos sem Fronteiras, os sintomas típicos de intoxicação com esses agentes químicos puderam ser observados nas vítimas dos ataques recentes na Síria: salivação incontrolada, lacrimação, coriza, contrações musculares, dificuldade respiratória, câimbras, vômitos, desmaios, paralisia respiratória e morte. Antídotos, como a atropina, só funcionam se forem aplicados logo após a contaminação.
Outro armamento químico é o gás mostarda. Ele foi empregado como tal pela primeira vez na Primeira Guerra Mundial, após a sugestão dos químicos alemães Wilhelm Lommel e Wilhelm Steinkopf, em 1916. Esse gás ataca a pele. Três minutos após o contato, ele atravessa as roupas e penetra no corpo, mas os sintomas aparecem 24 horas mais tarde. Vermelhidão, bolhas na pele, abertura dos poros e rompimento de vasos sanguíneos são alguns deles. A aspiração do gás mostarda pode levar à morte, já que ele ataca o tecido pulmonar.