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Por mais de dois anos e meio, a Rússia vem bloqueando, juntamente com a China, todas as tentativas de aprovação de sanções mais duras contra o regime de Bashar al-Assad no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Nem mesmo a comoção internacional que se seguiu ao ataque químico em Damasco e a iminência de uma ação militar americana serviram para suavizar a postura de Moscou.
Pelo contrário. Poucas horas depois da acusação do uso de gás venenoso, a primeira reação do governo russo foi de culpar a oposição a Assad. "No início da manhã de 21 de agosto, foi lançado a partir de posições dos insurgentes um foguete de fabricação caseira que continha uma substância química tóxica até agora não bem definida. Tudo isso leva à conclusão de que estamos lidando mais uma vez com uma provocação planejada", disse a chancelaria em nota publicada na imprensa estatal.
Cinco dias depois, o chanceler russo, Serguei Lavrov, chamou de histeria as acusações do Ocidente. E criticou Washington, Londres e Paris por falarem, supostamente sem provas, de "evidências irrefutáveis" do emprego de armas químicas.
Analistas políticos ligados ao Kremlin insistem em insinuar que os EUA e seus aliados estariam defendendo interesses ilícitos. Por exemplo, o editor da revista A Rússia na política global, Fyodor Lukyanov, foi citado pelo jornal Kommersant com a seguinte consideração em tom de ironia:
"Assad e seus generais devem estar loucos por, justamente agora, se colocarem de tal forma na linha de fogo com o emprego de armas químicas contra a população civil. No entanto, para a oposição, que não pode apresentar nenhum sucesso digno de menção, o escândalo em torno do uso de armas químicas vem na hora certa. É improvável que a comissão internacional considere os opositores de Assad como culpados."
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O presidente da Comissão de Política Exterior da Duma (câmara baixa do Parlamento russo), Alexei Pushkov, disse à emissora de TV Rossiya 24 que os EUA estariam na iminência de uma guerra. "Eles consideraram Assad culpado, mesmo antes de os resultados dos inspetores das Nações Unidas tenham sido divulgados. Isso significa que lado americano só aceitará o veredicto de culpado", afirmou.
O cientista político e pró-reitor da Universidade Plechanov, Serguei Markov, delineia o seguinte cenário no site da emissora liberal Echo Moskvy: "As provocações contra a Síria vão seguir o mesmo padrão do Iraque – notícias falsas sobre armas de destruição em massa. A guerra contra a Síria deverá seguir então o padrão líbio – bombardeios e apoio aos rebeldes. Nossos colegas no Ocidente não têm nenhuma reserva moral quando se trata de seus interesses", disse Markov.
Inúmeros acordos unem Rússia e Síria. Numa longa entrevista exclusiva para o jornal russo ligado ao Kremlin Izvestia, Assad elogiou Moscou pelo cumprimento dos contratos bilaterais firmados.
O ditador evocou o destino comum dos povos russo e sírio. A entrevista mostra claramente como as posições oficiais de autoridades russas, de cientistas políticos fiéis ao Kremlin e do chefe de Estado sírio se assemelham no raciocínio e na escolha de palavras – também para Assad os opositores na Síria são "terroristas".
"Após o colapso da União Soviética, os EUA acreditavam que a Rússia estaria destruída para sempre", disse Assad, que ressaltou que, desde a chegada de Vladimir Putin ao poder, a Rússia vem ganhando força. "O objetivo dos EUA é reduzir a importância da Rússia no mundo, também fazendo pressão na questão da Síria. No entanto, a Rússia defende os princípios que persegue há pelo menos cem anos. São os princípios da soberania e da não interferência em assuntos internos de outros Estados."