“Se tínhamos 100 combatentes na Síria, agora serão 200. Se eram mil, serão 2.000. Se tínhamos 10 mil, agora serão 20 mil combatentes.”
O Líbano deve unir-se para impedir que ataques como o atentado à bomba nos arredores de Beirute arrastem o país para uma guerra civil, disse o secretário-geral Hassan Nasrallah, do Hizbollah, em discurso transmitido por televisão na noite de ontem, na solenidade que marcou os sete anos do fim da guerra de julho de 2006.
Sua Eminência apresentou condolências às famílias dos mortos e feridos no atentado que detonou um carro-bomba no bairro de Roueiss, e que chamou de “massacre horrendo”.
“Temos de baixar a cabeça e mostrar todo o nosso respeito à resistência em Dahiyeh” – disse Sua Eminência. – “O que se viu ontem foi um ataque contra a população. Não foi operação de assassinato, não atacaram bases, instituições ou homens do Hezbollah. Atacaram deliberadamente para causar o maior número possível de mortes entre civis.”
Sua Eminência conclamou o povo a ter paciência e a praticar a moderação, para não reagir impulsivamente ao ataque.
“Falo ao povo que foi atacado ontem: Sabemos da paciência e da coragem de vocês. Querem abalar a fé de vocês, destruir o empenho com que abraçaram a resistência. Mas todos confiamos em vocês. Todos temos de continuar a nos conter” – disse o secretário-geral. “Qualquer ato ilegítimo, impensado, de qualquer um de nós, levará a resultados perigosos e sangrentos. Temos de impedir que o projeto terrorista de enfurecer as massas alcance seus objetivos.”
“Depois do massacre de ontem, controlamos a situação. Mas tenho de dizer a todo o povo do Líbano que, se esses atentados continuarem, o Líbano estará à beira do colapso. Nossos atos, doravante, terão de começar por todos compreendermos claramente a ameaça que o Líbano está enfrentando. Engana-se quem suponha que se trate só de uma seita religiosa.”
Nasrallah recomendou que se implantem medidas de prevenção, com inspeções e pontos de revista, mas alertou que só isso não bastará; que as forças de segurança terão de identificar e desmantelar os grupos terroristas responsáveis por ataques no Líbano.
O líder do movimento da Resistência disse que investigações das forças de segurança do Líbano apontaram grupos de ‘rebeldes’ sírios como responsáveis pelos recentes atentados nos subúrbios do sul do Líbano, e que há “alta probabilidade” de que as explosões em Roueiss também sejam obra de criminosos assemelhados.
“O povo de Dahieh está habituado a ser atacado” – disse Sua Eminência, que continuou: – “O inimigo faz o que faz porque supõe que, se atacar nosso povo, nos atinge no ponto mais fraco. Mas em Dahieh os ataques não assustam ninguém.”
Nasrallah informou que a identidade dos criminosos que atacaram dia 9 de julho nos arredores do subúrbio de Bir Abed já está determinada “com 99,99% de certeza.” Informou também que a inteligência libanesa já identificou os autores dos atentados em Hermel e os que dispararam foguetes contra Dahiyeh em maio.
Sua Eminência disse que os serviços de segurança libaneses haviam alertado o Hezbollah, de que circulavam informes que associavam grupos militantes contra o presidente Bashar al-Assad da Síria – aliado do Hezbollah – a atentados com explosivos em carros, que estariam sendo planejados para os subúrbios de Beirute.
Nasrallah disse que não se descarta a possibilidade de Israel ter trabalhado associada àqueles grupos terroristas, para atingir o Hezbollah.
“Não temos dúvidas de que os EUA e Israel estão infiltrados naqueles grupos de takfiri, mas os takfiri são os agentes diretos dos ataques” – disse ele. Takfiri, que significa “apóstata”, “infiel”, é expressão usada pelos aliados e defensores do governo de Assad na Síria, para designar os mesmos que o ocidente chama de “rebeldes”.
Falando diretamente àqueles takfiri, Nasrallah advertiu que novos ataques pelos rebeldes sírios contra o Hezbollah e seus apoiadores ampliarão a guerra na Síria.
“Vocês dizem que defendem o povo sírio, que querem punir o Hezbollah por sua presença na Síria. Mas são vocês os que causam mais sofrimento ao povo sírio. Vocês explodem mesquitas, matam crianças, atacam cidades com carros-bomba” – disse Sua Eminência. – “E nós, o Hezbollah, lutamos por nossos valores e de acordo com nossos valores. Não torturamos nem agredimos prisioneiros. E nunca matamos civis.”
“Bombardearam o bairro errado” – disse Sua Eminência. – “Se a luta exigir que eu e todo o Hezbollah vamos lutar na Síria, iremos. Nossa resposta a novos bombardeios é que se tínhamos 100 combatentes na Síria, serão 200. Se eram mil, serão 2.000. Se tínhamos 10 mil, serão 20 mil combatentes. A batalha será difícil e custosa, sim, mas muito mais difícil e custoso é deixar-se massacrar como carneiros”.
Nasrallah também comentou a emboscada contra soldados israelenses que cruzaram a fronteira do Líbano, dia 7 de agosto. “Já não permitimos que nenhum soldado israelense pise em território libanês. A era do turismo militar no Líbano acabou para sempre.”