Deutsche Welle
A "coalizão dos dispostos" está armada e a postos desde a semana passada, à espera apenas do sinal verde – seja da Casa Branca ou das Nações Unidas. Estados Unidos, Reino Unido e França posicionaram suas forças em grande escala, de forma estratégica, para viabilizar uma eventual ação militar contra o regime de Bashar al-Assad.
O termo "coalizão dos dispostos" é usado, desde os anos 1990, para descrever intervenções militares sem consentimento do Conselho de Segurança da ONU e ficou conhecido ao ser mencionado por George W. Bush antes da invasão do Iraque. Desta vez, a coalizão teria, pelo menos, França, Reino Unido e EUA. Observadores detectaram nos últimos dias diversos movimentos militares desses países na região, especialmente navais.
"Faz bastante sentido, se considerarmos um ataque de dois ou três dias sobre a Síria, como anunciado pelo presidente dos EUA, Barack Obama", avalia Sebastian Bruns, do Instituto para Política de Segurança da Universidade de Kiel (ISPK, na sigla em alemão). "Forças navais podem permanecer fora da zona de 12 milhas, em águas internacionais, e atingir alvos distantes com mísseis de cruzeiro."
É exatamente isso que os aliados parecem almejar. Quatro contratorpedeiros da Marinha americana estão a caminho do Mediterrâneo Oriental, segundo informações do ISPK. As embarcações têm a bordo 96 mísseis de cruzeiro do tipo BGM-109 Tomahawk. Esses mísseis dirigíveis têm 2.500 quilômetros alcance. Os navios que escoltam os dois porta-aviões dos EUA presentes no Golfo Pérsico e no Chifre da África também estão equipados com Tomahawks capazes de atingir alvos na Síria.
O Reino Unido também tem navios no Mediterrâneo. "No entanto, um porta-aviões, um contratorpedeiro e, possivelmente, um submarino nuclear se encontram numa missão de treinamento com países mediterrâneos, algo já planejado há muito tempo", ressalta Sebastian Bruns. "E os franceses têm, provavelmente, na região um submarino nuclear, mesmo que ainda seja algo sigiloso, além de um porta-aviões, que no momento ainda está nas proximidades da França."
Bruns acredita que a pressão diplomática sobre o lado adversário pode ser visivelmente aumentada através da força naval. "Quando unidades pesadas entram em formação, então, na perspectiva do regime de Assad, começa a preocupação que um ataque realmente esteja iminente."
Ataque à distância
Os mísseis de cruzeiro lançados pelos navios podem ser disparados a grande distância e controlados, obtendo efeito semelhante ao bombardeio por um avião de caça.
O ex-general da Força Aérea e ex-inspetor-geral das Forças Armadas alemãs Harald Kujat cita uma outra opção estratégica dos Estados Unidos. "Os americanos também dispõem de bombardeiros de longo alcance, do tipo B-1 e B-2, que podem muito bem decolar dos EUA e voltar novamente para lá."
No entanto, a defesa aérea da Síria é tida como especialmente eficiente. O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres (IISS, na sigla em inglês) estima que a Síria tenha mais de mil mísseis terra-ar de fabricação russa.
"E os aliados, com certeza, sabem disso também", destaca Kujat. "Por isso, os primeiros ataques deverão certamente ser lançados contra essas unidades de defesa aérea, para eliminar tal ameaça."
Por outro lado, segundo informações do portal de internet israelense DEBK Afiles, o Exército sírio já começou a descentralizar suas tropas e, especialmente, suas aeronaves militares. Dessa forma, eles seriam mais difíceis de serem atingidos por um eventual ataque ocidental.
Segundo Sebastian Bruns, especialista do ISPK, entre os alvos que também podem ser atacados estão instalações do regime, como centros de comando e unidades de telecomunicações, de fornecimento de energia, estradas e ferrovias.
Bases na região
Além de drones e de grandes bombardeiros, os aliados contam com uma variedade de aviões de combate que estão estacionados em porta-aviões e bases militares na região.
Os britânicos podem, com seus caças Tornado, disparar mísseis a mais de 200 quilômetros de distância, de forma que os pilotos ficam praticamente inacessíveis à defesa antiaérea da Síria. De suas duas bases no Chipre, por exemplo, podem alcançar alvos na Síria em apenas 20 minutos.
A Força Aérea dos EUA tem uma base na ilha grega de Creta e lá também usa parte do aeroporto de Chania como uma central de transportes na região. Para usar as bases para as operações de combate, os Estados Unidos, no entanto, precisam de permissão do governo em Atenas.
Na Turquia, a Força Aérea dos EUA também tem uma grande base. O aeroporto militar de Incirlik, utilizado também pelas forças britânicas, fica a apenas 120 quilômetros da fronteira com a Síria e a 400 quilômetros da capital, Damasco.
Os possíveis ataques militares contra a Síria serão uma ação comum de EUA, Reino Unido e França. A Alemanha, por sua vez, não desempenha papel algum neste cenário. O Exército está presente em vários lugares da região, mas no âmbito de missões sob mandato da ONU ou da Otan.
Os soldados alemães participam da missão da Força Interina das Nações Unidas no Líbano para treinar a Marinha local. Eles estão presentes na Turquia juntamente com sistemas antimísseis Patriot numa missão da Otan para proteger a fronteira turca com a Síria, e controlam um barco de reconhecimento para uma tropa de plantão da Aliança. De acordo com especialistas, é muito improvável que essas unidades sejam acionadas para o conflito sírio.