RENATO ALVES - CORREIO BRAZILIENSE
O lançamento de foguetes no Campo de Instrução de Formosa, a cerca 100km de Brasília, está proibido há 10 meses. A medida cancelou o exercício anual com a artilharia antiaérea, que começaria segunda-feira passada e iria até sexta-feira. Oficialmente, a assessoria de comunicação social do Exército informou ao Correio que o treinamento foi transferido para 19 a 27 de outubro, no Campo de Provas da Marambaia, no Rio de Janeiro. “A mudança ocorreu tendo em vista a dificuldade da interdição do espaço aéreo na área (em Formosa)”, apontou a nota enviada à reportagem.
Nos bastidores militares, entretanto, a ordem para suspender o lançamento dos foguetes partiu do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República e travou, pelo menos por ora, um projeto de R$ 1,2 bilhão, que deverá criar 6,6 mil empregos diretos e indiretos em Goiás e São Paulo, onde serão construídos os armamentos. Em nota, a Presidência disse não ter informações sobre o tema.
Os militares ouvidos pelo Correio disseram que a medida foi tomada em outubro do ano passado, após o avião presidencial que transportava Dilma Rousseff ser obrigado a desviar a rota. Naquele momento, o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha realizava exercício com artilharia de campanha, incluindo sistemas de mísseis terra-ar, em Formosa. Treinamento previamente programado e alertado ao controle de voo do aeroporto de Brasília.
Desde então, militares não disparam um tiro real de artilharia naquela região. Com a continuidade da proibição, cancelaram o exercício de tiro da artilharia antiaérea programado para esta semana. Chamado de Escola de Fogo, ele é realizado anualmente pela 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea, na cidade goiana, e participam também empresas brasileiras e estrangeiras para apresentar seus materiais.
Unidade poderosa
Com quase 1,2 mil km², o Campo de Instrução de Formosa é a maior e melhor área para exercícios de tiro de artilharia e foguetes do Exército Brasileiro. Inclusive foi aquartelada lá, para possibilitar a realização de seu treinamento de tiro, a mais poderosa unidade de artilharia de foguetes do Exército e da América do Sul, o 6º Grupo de Lançadores Múltiplos de Foguetes (GLMF), equipada com o Sistema Astros II, fabricado pela empresa brasileira Avibras.
A própria Presidência da República aprovou o Projeto Astros 2020, desenvolvido pela Avibras.
Ele prevê a instalação de mais um grupo de mísseis e foguetes em Formosa, com a criação de um grande complexo de artilharia e foguetes, batizado de Forte Santa Bárbara, contando com as condições do campo para realizar seus treinamentos.
Por ora, os militares não sabem quando voltarão a atuar em Formosa. Com a transferência para o Campo de Marambaia, porém, aumentam os riscos ao tráfego aéreo. Lá circulam aeronaves para os aeroportos do Galeão e Santos Dumont, além de helicópteros para as operações off-shore.