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Os problemas da utilização de veículos aéreos não tripulados para fins militares, uma área em que a liderança indiscutível pertence aos EUA, continuam a provocar discussões acaloradas entre especialistas, políticos e juristas europeus. A julgar por artigos nos meios de comunicação social, há pouco surgiu um novo problema imprevisto. De acordo com um recente relatório analítico do Brookings Institute, EUA, a Força Aérea americana começou a sentir falta de “aviadores terrestres”, ou seja, de operadores de drones de combate. As causas são várias, mas o fato em si reflete uma tendência bastante importante.
“Os 1.300 pilotos de drones militares, disponíveis atualmente nos Estados Unidos, já não são suficientes,” afirma o Handelsblatt alemão. “Os drones estão no primeiro lugar entre as tecnologias de guerra antiterrorista conduzida por Obama", detalha o diário suíço 20 Minuten. "Com a ajuda de drones são aniquilados supostos terroristas em todo o mundo. Contudo, os Estados Unidos começam a enfrentar o problema de falta de operadores dessas máquinas infernais de morte”.
Para a publicação suíça, a causa principal da falta de militares com formação especial, os quais, manejando um joystick comum, conseguem matar a milhares de quilômetros de distância todos quantos parecerem suspeitos aos estrategistas do Pentágono, consiste no aumento exponencial do uso dessa tecnologia mortífera.
No entanto, o problema da seleção de executores de sentenças de morte proferidas à revelia contra supostos terroristas tem também causas bem triviais, de origem meramente terrena. Segundo o relatório já citado do Brookings Institute, os “pilotos terrestres” de veículos aéreos não tripulados têm menores chances de avançar na carreira do que os pilotos “tradicionais”, ao passo que os operadores de drones têm de satisfazer requisitos mais elevados, inclusive psicológicos.
“O homem perdeu a perna direita. Eu vi como ele sangrava. O sangue estava quente. Quando ele morreu, e seu corpo esfriou, as cores da câmera térmica mudaram, tornando-se da mesma cor da terra”. Esse episódio foi relatado em entrevista à agência norte-americana NBC News por Brandon Bryant, de 27 anos, operador de drone que prestava serviço numa base da Força Aérea americana no estado de Nevada. A vítima à qual ele se referia e que fora atingida por um míssil, encontrava-se a 12 mil quilômetros, no Afeganistão.
Ao citar a entrevista, o 20 Minuten especifica que Bryant se demitiu do serviço militar em 2011. Segundo o jornal suíço, ele deixou de entender o valor da vida e padece de transtorno de estresse pós-traumático. Antes de deixar o serviço, o chefe mostrou-lhe uma relação que incluía 1.626 nomes de terroristas liquidados por Bryant no Iraque e Afeganistão. “Seria melhor que eu nunca tivesse visto aquela lista”, lamenta ele.
Haverá muitos como Bryant? De acordo com o relatório, há 4 anos, os “aviadores terrestres” constituíam 3,3% de todo o pessoal da Força Aérea dos EUA, enquanto hoje em dia a proporção cresceu para 8,5%. Para promover a atratividade deste gênero de serviço, nos Estados Unidos foi instituída no início do ano em curso uma ordem de mérito para distinguir os operadores de drones de combate.
Pelos vistos, os EUA não têm intenção de abdicar da utilização, em proporções sempre crescentes, deste tipo de arma, apesar das dúvidas relativas aos aspetos legais, expressas por especialistas, inclusive no contexto da ONU. Os países-membros da OTAN seguem o sócio sênior sem repararem em perdas financeiras e reputacionais. Na Alemanha, por exemplo, até o momento não se acalmou um escândalo em torno da chamada “fraude de drones”: cerca de 500 milhões de euros foram jogados pela janela na sequência de um negócio mal pensado de compra de drones militares americanos.
O chefe do departamento da segurança europeia do Instituto da Europa, Dmitri Danilov, chama a atenção para um detalhe que ele considera bastante importante:
“Por que é que hoje estão falando tanto nesse escândalo na Alemanha? Porque no setor há uma competitividade muito séria. A produção de drones não é tão grande, e as prestações dos veículos variam muito. Em certa altura, no mercado de armas foi levada a cabo uma campanha publicitária agressiva a favor de um avião alemão. Agora, todos tratam de utilizar os problemas surgidos para eliminar a Alemanha desse mercado.”
Katrin Goring-Eckardt, candidata №1 do Partido Aliança 90/Os Verdes nas próximas eleições para o Bundestag se referiu a essa mesma questão numa entrevista recente:
“O contribuinte paga, e ele tem de pagar sempre mais e mais. Mas o consórcio produtor está fora. Surge daí uma impressão de que o Ministério da Defesa faz contratos exclusivamente para favorecer os interesses dos industriais.”
Pode-se dizer que o controle de drones, efetuado em terra, é não só militar mas também político. Só que, para este último, os quadros nunca escasseiam.