Por Redação, com agências internacionais - de Cidade do Panamá
O Panamá deteve para investigação um navio de bandeira norte-coreana sob suspeita de que estava escondendo equipamentos de mísseis em um carregamento de açúcar mascavo vindo de Cuba, fato que provocou um impasse durante o qual o capitão da embarcação ameaçou cortar sua garganta.
O navio foi parado na semana passada enquanto se dirigia para o Canal do Panamá, e as autoridades prenderam a tripulação na segunda-feira depois de encontrar objetos em forma de mísseis não declarados, uma potencial violação das sanções da Organização das Nações Unidas (ONU) ao programa nuclear da Coreia do Norte.
– Descobrimos recipientes que supostamente contêm equipamentos sofisticados de mísseis. Isso não é permitido. O Canal do Panamá é um canal de paz, não de guerra – disse o presidente panamenho, Ricardo Martinelli, a uma rádio local nesta terça-feira.
Uma foto postada na página oficial de Martinelli no Twitter de dentro do navio mostra um objeto comprido, verde, no formato de um míssil, com uma extremidade cônica que se estreita. Um especialista em segurança disse que as imagens mostraram sistemas de radar da época da guerra do Vietnã para a família de mísseis soviéticos terra-ar.
O Departamento de Estado norte-americano elogiou a decisão do Panamá de interceptar o navio, que disse ter um histórico de envolvimento com o tráfico de drogas, e advertiu que a embarcação poderia violar as resoluções do Conselho de Segurança da ONU contra o envio de armas.
A ONU impôs uma série de sanções à Coreia do Norte, incluindo normas rígidas sobre carregamentos de armas, medidas que buscam conter o seu programa de armas nucleares.
O ministro da Segurança do Panamá, José Raúl Mulino, disse que seu governo reteve o navio na última quarta-feira e que até agora encontrou dois contêineres de equipamentos militares. Ele não especificou se a carga continha mísseis reais, mas disse que a busca pode durar semanas.
Quando os oficiais do Panamá começaram a inspecionar os contêineres com mais de 250 mil sacas de 100 quilos de açúcar mascavo, o capitão ficou violento, disse Mulino.
O capitão, um cidadão norte-coreano como a tripulação, tentou cortar sua garganta com uma faca, disse um oficial da polícia. O homem estava no hospital em estado estável, acrescentou o funcionário, falando sob condição de anonimato.
O especialista em Coreia do Norte da Kennedy School, da Universidade de Harvard, Ben Rhode, sugeriu que a tentativa de suicídio do capitão poderia ter sido um esforço para escapar de uma punição severa por autoridades da Coreia do Norte por não ter cumprido a sua missão.
Todos os 35 membros da tripulação do navio, chamado Chong Chon Gang, foram presos depois de resistirem às ordens do Panamá e agora estão sendo questionados em Fort Sherman, uma antiga base do Exército dos Estados Unidos no Atlântico, acrescentou o funcionário.
O principal promotor na área do narcotráfico no Panamá, Javier Caraballo, afirmou à TV local que o navio se dirigia para a Coreia do Norte.
Um funcionário da missão norte-coreana na ONU disse que ninguém estava disponível para comentar sobre o navio.
Carga ilegal
A IHS Jane, uma empresa de análise global, afirmou ter identificado o equipamento mostrado nas fotos como sendo um radar de controle de fogo RSN-75 ‘Fan Song’ para a família de mísseis terra-ar SA-2.
O radar, construído pela fabricante de armas russa Almaz-Antey e usado pela primeira vez durante a Guerra do Vietnã, pode ter destruído muitos aviões ocidentais, de acordo com o instituto de defesa Air Force Australia.
Cuba afirmou que o navio de carga norte-coreano foi carregado em um de seus portos com 10 mil toneladas de açúcar e 240 toneladas de “armamento defensivo obsoleto”, segundo um comunicado divulgado nesta terça-feira pelo Ministério das Relações Exteriores cubano.
O governo cubano disse que as armas estavam sendo enviadas de volta para a Coreia do Norte para manutenção e a carga incluía duas baterias antiaéreas, nove mísseis desmontados e dois aviões MiG-21, todas armas militares da era soviética construídas em meados do século passado.
A Coreia do Norte, país asiático pobre e isolado da comunidade internacional, está sob duras sanções da ONU, dos Estados Unidos e da União Europeia, incluindo uma proibição da ONU a qualquer exportação de armas, em razão de seu controverso programa nuclear.
Violações anteriores de sanções incluíram embarques norte-coreanos de material relacionado a armamento para a Síria, em novembro de 2010, e para o Irã, em 2008, de acordo com relatório de maio da ONU.
Navio monitorado
O navio, construído em 1977, deixou Porto Vostochny, no extremo leste da Rússia, em 12 de abril, de acordo com a empresa marítima de inteligência Lloyd List Intelligence.
Depois, foi registrado ao chegar em Balboa, no lado do Pacífico do Canal do Panamá, em 31 de maio, e cruzou a via navegável no dia seguinte rumo a Havana, capital de Cuba.
Em seguida, desapareceu do sistema de rastreamento e reapareceu em Manzanillo, no Panamá, em 11 de julho, de acordo com dados de navegação obtidos pelo grupo de pesquisa IHS Maritime. O IHS afirmou que havia indícios de que a embarcação tinha mudado de carga durante esse tempo.
Em 2010, o Chong Chon Gang foi parado por autoridades ucranianas que encontraram munição de armas leves e narcóticos a bordo do navio, de acordo com o especialista em tráfico de armas no Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo, Hugh Griffiths.
Um ano antes, o navio parou em Tartus, na Síria, que abriga uma base naval russa, acrescentou Griffiths.