Ataques lançados pelo 2º dia consecutivo têm como alvo mísseis do Irã endereçados ao Hezbollah e indicam escalada no envolvimento israelense na sangrenta guerra civil síria
iG São Paulo
Aviões israelenses atingiram áreas dentro e ao redor da capital síria neste domingo, detonando uma série de explosões ao ter como alvo mísseis guiados altamente precisos de fabricação iraniana possivelmente endereçados ao grupo militante libanês Hezbollah, disseram autoridades e ativistas. O ataque, o segundo em três dias, indicou uma grande escalada do envolvimento israelense na sangrenta guerra civil síria. A Casa Branca não fez nenhum comentário imediato sobre os ataques deste fim de semana.
A agência de notícias estatal Sana, da Síria, informou que explosões aconteceram no centro de pesquisa científica e militar de Jamraya, a noroeste de Damascus e a cerca de 15 quilômetros da fronteira libanesa, com "informações iniciais indicando que a causa seriam mísseis israelenses". Sana afirmou que o ataque deixou vítimas, mas não especificou um número.
Por sua vez, a TV al-Manar, do Hezbollah, negou que o centro de pesquisa em Jamraya tenha sido atingido. Citando fontes de segurança sírias não identificadas, a TV afirmou que o ataque em Jamraya teve como alvo três lugares, incluindo um quartel-general, um depósito de armas e um centro de defesa aérea. Já a TV libanesa Al-Mayadeen, que tem vários repórteres na Síria, disse que um dos ataques atingiu uma posição militar na vila de Saboura, a oeste de Damasco e a cerca de 10 quilômetros da fronteira do Líbano.
Sob condição de anonimato, uma fonte de inteligência no Oriente Médio confirmou que Israel lançou um ataque aéreo na capital síria na madrugada deste domingo, mas não especificou a localização. O alvo eram mísseis Fateh-110, que têm sistemas de direção precisos com melhor desempenho do que qualquer armamento que o Hezbollah tenha em seu arsenal, disse a fonte à Associated Press.
Escalada do conflito
Os ataques são lançados enquanto os EUA consideram como responder a indicações de que o regime sírio pode ter usado armas químicas em sua sangrenta guerra civil. O presidente dos EUA, Barack Obama, descreveu o uso de tal armamento como uma " linha vermelha ", e seu governo estuda quais são suas opções - incluindo uma possível ação militar.
O Irã, um aliado próximo do regime de Bashar al-Assad, condenou os bombardeios, mas não deu nenhuma indicação de uma possível resposta mais forte de Teerã.
Israel disse que quer ficar fora do conflito sírio, mas o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, repetidamente alertou que Israel estaria preparado para lançar uma ação militar se armas químicas ou outros tipos de armamentos que pudessem alterar o equilíbrio de poder com o Hezbollah chegassem às mãos do grupo militante islâmico. Israel e o Hezbollah travaram uma guerra de um mês em 2006 que terminou em um impasse.
O ativista Maath al-Shami, com base em Damasco, disse que os ataques aconteceram às 3 horas locais. "Damasco tremeu. A explosão foi muito, muito forte", disse al-Shami, acrescentando que uma das explosões aconteceu perto da montanha de Qasioun, ao redor de Damasco. Segundo ele, esse ataque teve como alvo uma posição militar para a Guarda Republicana, que é encarregada de proteger Damasco, o centro de poder de Assad. Não houve declaração oficial do Exército sírio.
Os ataques põem o regime de Assad em uma posição difícil. Se fracassar em responder, parecerá fraco e ficará aberto para que tais bombardeios se tornem corriqueiros. Mas, se retaliar, arrisca atrair o Estado judeu e seu poderoso Exército para um conflito mais amplo.
Depois dos primeiros ataques do fim de semana, o Exército israelense posicionou no sábado duas baterias de seu sistema de defesa Domo de Ferro para o norte do país, descrevendo a medida como parte das "análises da situação no momento". O Domo de Ferro protege contra foguetes de curto alcance. O Hezbollah lançou milhares de foguetes contra Israel na guerra de 2006, enquanto os aviões israelenses destruíram amplas áreas no sul do Líbano.
O Fateh-110, ou Conquistador, é um míssil balístico de curto alcance desenvolvido pelo Irã e primeiramente usado em 2002. A República Islâmica revelou uma versão atualizada em 2012 que melhorou a precisão da arma e aumentou seu alcance para 300 quilômetros.
Um ataque aéreo em janeiro também teve como alvo armas aparentemente endereçadas ao Hezbollah em Jamraya, disseram autoridades de Israel e dos EUA. Na época, um funcionário americano afirmou que Israel atingiu caminhões perto do centro de pesquisa que continham mísseis antiaéreos SA-17. Os ataques atingiram os caminhões e o centro de pesquisa, disse a fonte. O Exército sírio não confirmou que os bombardeios atingiram o carregamento de armas, apenas afirmando que aviões israelenses bombardearam o centro de pesquisa.
Repercussão regional
Israel tem observado com cuidado a guerra civil síria, que em várias ocasiões repercutiu em suas fronteiras, assim como de outros países vizinhos, incluindo Turquia, Líbano e Iraque. O Estado judeu está particularmente preocupado que os estoques de armas químicas do regime sejam transferidos para o Hezbollah ou caiam nas mãos de extremistas islâmicos que lutam do lado dos rebeldes.
Preocupações sobre as armas químicas sírias aumentaram em semanas recentes, em meio a crescentes indicações de que o regime de Assad pode tê-las utilizado contra os rebeldes que tentam depor o governo.
Os EUA disseram que informações de inteligência indicam que o governo sírio provavelmente usou o mortífero gás neurológico sarin em ao menos duas ocasiões, ecoando análises prévias do Reino Unido, França e Israel . Obama caracterizou o uso de tais armas como uma "mudança de jogo" que traria "enormes consequências ", mas disse que precisa de provas mais definitivas antes de tomar uma decisão de como responder - e se adotará ação militar.
Parece haver pouco impulso no momento para uma intervenção direta, e Obama disse na sexta que não antevê um cenário em que os EUA enviarão soldados à Síria. Em vez disso, o secretário de Defesa americano, Chuck Hagel, disse na quinta que Washington repensa sua oposição a armar os rebeldes sírios . Até agora os EUA descartaram armar os rebeldes, temendo que elas acabem nas mãos de grupos vinculados à Al-Qaeda ou outros extremistas que lutam com os rebeldes.
Os ataques deste fim de semana e o de janeiro se seguem a décadas de inimizade entre Israel e os aliados Síria e Hezbollah, que consideram o Estado judeu como seu inimigo mortal. A situação ficou ainda mais complicada com a guerra civil síria, que está consumindo o Exército de Assad e ameaça privar o Hezbollah de seu principal aliado, além de seu corredor terrestre para o Irã. Os dois países fornecem ao Hezbollah dinheiro e armas.
*Com AP e New York Times
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