Vinte observadores sofrem emboscada durante missão de suprimentos nas Colinas de Golã
Correio Braziliense
Em uma ação sem precedentes nos quase dois anos de conflitos na Síria, rebeldes armados capturaram ontem um comboio com 20 observadores das Nações Unidas nas Colinas do Golã, na fronteira com Israel. A ação foi anunciada pelos opositores do regime de Bashar Al-Assad em vídeos postados no YouTube, nos quais um insurgente acusa a Força de Observação de Separação (Undof, na sigla em inglês) de “ajudar o Exército sírio”. Num comunicado, a ONU informou que está enviando uma comissão ao local para negociar a liberação dos reféns.
“Os observadores da ONU estavam em uma missão regular de suprimentos e pararam perto do Posto de Observação 58, que sofreu danos e foi evacuado na semana passada após intenso combate nas proximidades, em al-Jamlah”, destacou o comunicado, emitido em Nova York. Pelo menos 30 rebeldes participam da ação, classificada como “um incidente muito grave” pelo chefe das operações de manutenção de paz da ONU, Hervé Ladsous. “Todas as nossas equipes estão mobilizadas”, assinalou.
As Nações Unidas não forneceram a nacionalidade dos reféns, mas o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) — organização que se apoia em uma ampla rede de militantes e médicos — e diplomatas indicaram que são filipinos. Desde 1974, a Undof é encarregada de observar o cessar-fogo na região. Ela conta com 1.100 soldados e pessoal procedente da Áustria, Croácia, Índia, Japão e Filipinas. Segundo o OSDH, os sequestradores exigem a retirada do Exército sírio dos arredores do setor de Jamla.
Confrontos
Ontem mesmo, os 15 membros do Conselho de Segurança aprovaram uma declaração em que “condenam veementemente a detenção” dos observadores da ONU e “exigem a libertação imediata e sem condições”. Desde 1967, Israel ocupa 1.200km² das Colinas de Golã. A área foi anexada ao território israelense em 1981, decisão que jamais foi reconhecida pela comunidade internacional. A Síria continua controlando os 510km² restantes. Em dezembro do ano passado, a ONU denunciou a presença de rebeldes nas áreas desmilitarizadas das Colinas de Golã, bem como incursões de militares sírios para expulsá-los.
Enquanto isso, os confrontos entre as forças de Al-Assad e os rebeldes, que já resultaram em mais de 70 mil mortos, prosseguiram em todo o país. Só ontem, mais 121 pessoas morreram, principalmente em ataques da aviação do regime contra a cidade de Raqa, próxima da fronteira turca. Os embates não impediram a tomada total da cidade pelos rebeldes. “(Raqa) Está inteiramente fora do controle das forças do regime depois da rendição dos últimos membros dos serviços militares após dois dias de combates”, afirmou Rami Abdel Rahmane, diretor do OSDH.