Governo Hollande pede conversa de paz para reduzir tensão étnica
O Globo
KIDAL, MALI - Com aviões e helicópteros, tropas francesas assumiram o controle do aeroporto de Kidal, cidade considerada o último reduto urbano controlado por combatentes islamistas no Norte do Mali. A operação marca a terceira conquista da missão nos últimos dias, após a ocupação das cidades de Gao e Timbuktu. A retomada de Kidal deve marcar o fim da primeira fase da operação militar destinada a evitar que o país se torne uma plataforma de operações para radicais ligados à al-Qaeda.
Em Kidal, os militares se reuniram com representantes do grupo tuaregue defensor da independência, Movimento Nacional de Libertação de Azawad (MNLA), que disse ter ocupado a cidade desde o começo da semana, depois da saída de radicais islamistas. O MNLA iniciou uma rebelião no Norte do país no começo do ano passado, mas ela foi suplantada por uma aliança de grupos islamistas, que os expulsaram do poder nas principais cidades. Agora, os tuaregues dizem estar dispostos a negociar um acordo com o presidente interino, Dioncounda Traoré, na capital, Bamako. O governo já anunciou a intenção de realizar eleições nacionais no dia 31 de julho.
- Estamos prontos para encontrar uma solução política - disse o porta-voz do MNLA, Moussa Ag Assarid.
"Vamos sair muito rapidamente"
Há indícios de que o processo de reconciliação popular será complicado. Em Gao e Timbuktu foram registrados ataques e saques contra lojas e residências de tuaregues malineses e árabes suspeitos de simpatizar com o MNLA e com os extremistas rebeldes. As tropas malinesas foram acusadas por defensores de direitos humanos de assassinatos por vingança de simpatizantes e suspeitos de participação nas operações de radicais islamistas. Em resposta, a França pediu a presença de observadores internacionais na região.
O porta-voz da Chancelaria francesa, Philippe Lalliot, disse que o governo interino do Mali precisa iniciar imediatamente conversas com a população no Norte do país, inclusive com grupos armados não terroristas que reconhecem a integridade territorial do país. Esta, na visão do governo do presidente François Hollande, seria a única forma de assegurar o retorno da presença do Estado no Norte do Mali.
Com o avanço da intervenção militar, o chanceler francês, Laurent Fabius, reiterou que os africanos precisam assumir a liderança da missão. Segundo ele, a rapidez da reconquista das principais cidades era parte da estratégia.
- Decidimos colocar os meios e o número de soldados necessários para um ataque pesado. Mas o contingente francês não continuará assim. Vamos sair muito rapidamente - disse.
A luta contra os jihadistas, no entanto, está longe de acabar. Para especialistas, a etapa mais difícil será rastrear os extremistas, escondidos agora em vilarejos, montanhas e no Deserto do Saara.
- É um inimigo que pode desaparecer no meio da população e surgir quando quiser. Os insurgentes jogam no longo prazo. Eles não estão com pressa, os franceses estão. Esta não é uma guerra convencional - disse Ayo Johnson, diretor do centro de estudos Viewpoint Africa.