Estratégia dos dissidentes é destruir aeronaves e evitar bombardeios contra posições da oposição
O Estado de SP
Rebeldes sírios tomaram ontem uma base de helicópteros nos arredores de Damasco. De acordo com ativistas que combatem a ditadura de Bashar Assad, o avanço militar representa um golpe no regime. Tropas do Exército Sírio Livre (ESL) têm sido repelidas por forças leais ao Assad, mas conseguiram consolidar uma posição importante nos arredores da capital síria.
De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), entidade dissidente com base em Londres, 15 rebeldes e oito militares morreram nos combates na base de Marj al-Sultan, tomada ontem pela manhã. Os combates duraram cerca de 24 horas.
A estratégia rebelde consiste em tomar bases aéreas e destruir aeronaves para impedir que o regime utilize bombardeios aéreos para atacar locais já controlados pela oposição. Os insurgentes não têm acesso a baterias antiaéreas para se defender desses ataques.
"Foi um grande golpe contra o regime porque ocorreu muito perto do centro da capital", disse Abdul Rahman, do OSDH. Segundo ele, a base fica a apenas 15 quilômetros de Damasco. Pouco após derrotarem as forças do regime, os rebeldes roubaram munição e fugiram temendo contra-ataques das tropas de Assad.
Um vídeo divulgado na internet, cuja autenticidade não pode ser comprovada, mostrou rebeldes andando na base, em meio a dois helicópteros destruídos. Outros três, no entanto, foram deixados para trás sem danos. Muita fumaça podia ser vista no local. Outro vídeo mostrava aparelhos de radar destruídos e veículos militares estacionados enquanto os rebeldes circulavam livremente pela base.
Ainda de acordo com o OSDH, os combates continuaram em outros pontos do país. Os mais violentos ocorreram em Alepo, segunda maior cidade da Síria, e nos subúrbios de Damasco. Os dissidentes também conquistaram uma base de treinamento de uma milícia palestina leal a Assad em Douma, subúrbio de Damasco.
A Frente Pela Libertação da Palestina confirmou que sua base foi atacada no final da noite de sábado. Segundo o grupo, ela servia de local de treinamento para militantes que lutam contra a ocupação israelense nos territórios palestinos.
Atentado. A explosão de uma bomba na vila de Othman, próxima das Colinas do Golã, ocupadas por Israel desde 1967, matou cinco pessoas. Dezenas ficaram feridas. Houve confronto de tropas em Quneitra, também próximas do território ocupado.
Segundo o Comitê de Coordenação Local, outra entidade ligada aos rebeldes, 12 corpos foram encontrados em uma casa em Daraya, no subúrbio de Damasco. A região tem sido palco de pesados combates entre forças do governo e do ESL.
Segundo a TV estatal síria, houve confrontos no mesmo subúrbio de Damasco. No bairro de Hajira, o governo disse ter matado um militante palestino da rede terrorista Al-Qaeda, identificado como Abu Suhaib. O militante seria suspeito de diversos atentados organizados pelos rebeldes contra alvos do regime.
Líbano. No país vizinho, soldados libaneses prenderam cinco sírios no sábado. Eles estavam em posse de explosivos. A operação ocorreu na véspera do festival xiita da Ashura. País com grande parte da população xiita, o Líbano vive um frágil equilíbrio sectário, que pode ser rompido caso a guerra civil síria atravesse a fronteira.
De acordo com a imprensa libanesa, os suspeitos planejavam um atentado contra peregrinos xiitas durante as celebrações da Ashura. Os xiitas libaneses são apoiados por Assad, que é alauita, um ramo do Islã derivado do xiismo. Os rebeldes que combatem Assad são majoritariamente sunitas.
Desde março do ano passado, quando começaram os protestos populares - a princípio pacíficos - contra o presidente sírio, mais de 40 mil pessoas morreram na repressão e na guerra civil. Potências regionais, como Catar, Arábia Saudita e Turquia tem respaldado os rebeldes sírios. No entanto, China, Rússia e Irã seguem ao lado de Assad. / AP e REUTERS