Correio do Brasil
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o ministro da Defesa, Ehud Barak, emitiram uma ordem para as Forças Armadas do país se prepararem para atacar as instalações nucleares iranianas há dois anos. A agressão contra o Irã foi impedida, na época, por conta da forte oposição de líderes da segurança israelense. Essas informações, até então desconhecidas, surgiram na série documental “Fatos” da emissora israelense 2, que serão exibidas nesta segunda-feira (5) na TV privada do país.
De acordo com o programa, o premiê israelense ordenou elevar nível de preparo das Forças Armadas para “P plus”, um código que significa que os militares devem estar prontos para entrar em ação, durante uma reunião com os ministros e oficiais mais importantes do país. A decisão teve o apoio de Barak, mas não foi aceita pelo então diretor da Mossad, Meir Dagan, e pelo então chefe de Estado-maior, general Gaby Ashkenazi.
Dagan argumentou que a decisão de atacar o território iraniano apenas poderia ser tomada pelo gabinete de segurança, que reúne 15 ministros. “Vocês estão prestes a tomar uma decisão ilegal de ir para a guerra”, teria afirmado o líder da Mossad durante o encontro.
Já Ashkenazi expressou temor de que o aumento no nível de alerta para “P plus” tornaria o ataque militar contra o Irã inevitável. Segundo as fontes consultadas pela emissora, o então chefe militar disse: “Isso não é algo que você faz, a menos que você tenha certeza de que deseja executar até o final”.
A versão, no entanto, foi negada pelo ministro de Defesa, que também foi entrevistado para o programa. De acordo com o seu relato, a ordem não foi cumprida porque as Forças Armadas de Israel não tinham a capacidade operacional necessária no momento. Barak negou as afirmações de que Dagan e Ashkenazi vetaram a medida.
“As coisas que você está descrevendo são de responsabilidade do governo”, disse ele. “A ideia de que se o chefe do Estado-maior não recomenda algo que é possível de ser feito, então não podemos decidir realizá-lo, não tem base na realidade. O chefe das tropas deve construir a capacidade operacional, ele deve nos dizer de um ponto de vista profissional se é possível levar a cabo uma ordem, ou se não é possível, e ele também pode – e deve – dar sua recomendação. Mas, a ordem pode ser realizada contra a sua recomendação”, acrescentou Barak.
O ministro de Defesa também disse que o aumento no nível de alerta não “significa necessariamente guerra”, contradizendo as ditas afirmações de Ashkenazi.
As datas citadas pela série televisiva coincidem com a renúncia de Dagan e Ashkenazi de seus cargos. Desde que deixaram o governo, ambos deixaram claro sua oposição a uma ação militar prematura e unilateral contra as instalações nucleares iranianas e apelaram para o uso da diplomacia e sanções.
Em junho de 2011, o ex-chefe da Mossad disse em entrevista a rede norte-americana CBS que bombardear o Irã é “a ideia mais estúpida que eu já ouvi”. “Um ataque contra o Irã antes de explorar todas as possibilidades não é a coisa certa a se fazer”, afirmou ele.
Guerra iminente
Já o ministro de Defesa de Israel continua a afirmar sua preferência por um ataque militar contra as instalações nucleares iranianas “antes que seja tarde”. Em entrevista ao jornal britânico Daily Telegraph no final de outubro, Barak reiterou que a guerra contra o Irã deve ser realizada o mais rápido possível antes que as instalações nucleares iranianas atinjam a “zona da imunidade”, isto é, quando se tornarem invulneráveis a possíveis ataques militares aéreos israelenses.
Para o ministro de Defesa, os “aiatolás” que compõem o governo iraniano não iriam desistir de obter o armamento nuclear com sanções ou diplomacia e, por essa razão, a possibilidade de ataque contra o país ainda estaria na mesa.
Barak ainda sustentou que Israel tem o direito de atacar o país sem a autorização prévia dos EUA em uma ação militar unilateral. “No que diz respeito ao centro dos nossos interesses de segurança e, de certa maneira, ao futuro de Israel, nós não podemos delegar a responsabilidade de tomar decisões nas mãos de outros mesmo que se tratem de nosso aliado mais confiável e fiel”, afirmou.
Fins pacíficos ou militares?
O programa nuclear iraniano foi anunciado em fevereiro de 2003 pelo então presidente, Mohamed Khatami, que revelou a existência da instalação de Natanz e convidou a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) para visitá-la.
Desde então, políticos norte-americanos e europeus colocam dúvidas sobre os fins pacíficos do programa e afirmam que o governo do Irã deseja desenvolver armas nucleares. França, Reino Unido, Alemanha e os EUA conseguiram aprovar no Conselho de Segurança seis pacotes de sanções contra o país de 2006 até os diais atuais. A União Europeia e diversos países, incluindo os EUA, também realizam bloqueios contra o país.
A AIEA faz visitas constantes ao Irã com a finalidade de acompanhar o desenvolvimento de seu programa nuclear, de modo a produzir diversos relatórios sobre o caso. Em todos estes documentos, a agência afirmou que não pôde verificar indícios de fabricação de armas nucleares.
Com Opera Mundi
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