França finaliza plano de saída do Afeganistão, mas evacuação não deve ser concluída este ano
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Nathalie Guibert
As rotas de saída do Afeganistão estão prontas para o exército francês. O ministro da Defesa, Jean-Yves Le Drian, que no domingo (15) iniciou sua visita ao Cazaquistão e ao Uzbequistão, decidiu junto com as autoridades políticas desses países quais serão os métodos utilizados. Os especialistas em logística das forças armadas poderão colocar seus planos em prática.
As vias de passagem do Norte são as preferidas pela França. Paris considera a rota do sul até o porto de Karachi, no Paquistão, incerta demais, ainda que três vezes mais barata. A palavra de ordem é não se precipitar, para evitar riscos financeiros e de segurança. Isso significa que nem tudo terá sido evacuado até o dia 31 de dezembro, para cumprir o cronograma da retirada de todos os combatentes até final de 2012, data estabelecida pelo presidente da República.
O objetivo é diversificar os caminhos: além do Uzbequistão e do Cazaquistão, uma alternativa em caso de necessidade poderá ser passar pelo Tadjiquistão (onde a França dispõe de um ponto de apoio na base de Douchambe) e pelo Quirguistão. Deverão ser evacuados cerca de 1.500 contêineres de 20 pés (a título de comparação, o exército americano possui 175 mil deles). As vias aéreas pelas quais já começaram a levar certos materiais, diretamente para a França ou por meio da base de Abu Dhabi nos Emirados Árabes Unidos, serão usadas para materiais delicados.
A negociação bilateral, paralela àquela conduzida pela Otan em nome da coalizão, é uma questão delicada, que Paris preparou nomeando em junho um embaixador especial, Stanislas de Laboulaye. Missões técnicas das forças armadas também prepararam o terreno no Uzbequistão e no Cazaquistão. Os dois vizinhos do Afeganistão impuseram a mesma condição: os comboios que transitarem sobre seu solo não deverão conter armamentos e eles deverão ser discretos.
Cooperação militar mais ampla
Esses países estão preocupados com o que acontecerá depois de 2014, data estabelecida pela Otan para a suspensão das operações de combate, por temerem incursões islamitas ou talebans desestabilizantes. A França iniciou, junto com os países da região, uma cooperação militar mais ampla. No Cazaquistão, onde Le Drian encontrou o primeiro-ministro Karim Massimov, foi feito um acordo sobre princípios, que deve, no entanto, ser validado no final do ano. Os materiais chegarão do Afeganistão por avião, na base de Shymkent. A passagem dos Antonov ucranianos que serão alugados pelo exército francês foi possibilitada pela votação, em junho, de uma lei que autoriza o trânsito de aviões fretados em solo cazaque.
Junto com esse país, considerado um parceiro estratégico, Paris pretende aprofundar sua cooperação militar selada por um tratado em 2009. O Cazaquistão, potência mineradora e espacial, é um aliado e um cliente. A Eurocopter inaugurou em junho uma fábrica em joint-venture. A Astrium vendeu dois satélites de observação que serão lançados a partir de 2013. O Thalès está posicionado no mercado de radares.
No Uzbequistão, o ministro obteve o consentimento formal do presidente Islam Karimov para iniciar o trânsito dos contêineres, chegando pela estrada a partir de Cabul até a base alemã de Termez, do outro lado da fronteira, antes de pegar os trilhos na Rússia. Paris alocou um adido de defesa em Tashkent e assinou um plano de cooperação em 2012, mas mostra uma relação mais prudente com esse país. O exército francês vai treinar ali tropas de montanha, especialistas estão sendo enviados para a academia militar do país e serão fornecidos equipamentos de pequeno porte.
Temor de atentados suicidas
Já foi efetuado 20% do desengajamento francês do Afeganistão. Desde o dia 1º de janeiro, voltaram 650 soldados, entre eles o destacamento da aeronáutica presente em Candahar com seus três Mirage 2000 (partidos no início de julho), o destacamento dos aviões não-tripulados, as unidades presentes nos postos de Surobi e Kapisa cedidos às forças afegãs (inclusive o domínio de Uzbin) e dos treinadores da missão da Otan em Cabul. Os maiores trânsitos ocorreram de avião em março e em maio. Restam 2.900 soldados no local.
Por enquanto, os materiais estão se acumulando na base de Warehouse em Cabul. No verão será feita uma pausa, em razão dos riscos de combate, mas também devido às capacidades técnicas dos aviões, que não podem levar cargas tão pesadas quanto no inverno. Portanto, a manobra será reiniciada no outono.
São grandes os temores de atentados suicidas ou de grandes ataques. “A retirada é um desafio, tanto no plano técnico quanto no plano tático, pois sempre se fica mais vulnerável com um desengajamento”, explica o general Bertrand Ract-Madoux, chefe do Exército. “Teremos todo o cuidado de fazê-la nas melhores condições de segurança”. O general admite: “Sim, temo por más notícias”. A ratificação do tratado de amizade assinado pela França com o Afeganistão deverá ser submetida ao Senado no dia 18 de julho.
Tradutor: Lana Lim
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