Por Virgínia Silveira | Para o Valor, de São José dos Campos
O Comando da Aeronáutica enviou, há cerca de um mês, um pedido formal de informações às empresas Airbus, Boeing e Israel Aerospace Industries (IAI) com vista à compra de novos aviões para a presidência da República.
As informações enviadas pelas empresas, segundo a Aeronáutica, vão subsidiar o processo de aquisição das aeronaves que irão substituir os atuais Boeing 707, nas missões de transporte intercontinental da presidência, transporte logístico e reabastecimento em voo. A Força Aérea Brasileira (FAB) possui quatro modelos Boeing 707, mas o processo em estudo prevê a compra de dois, segundo o Valor apurou.
A ideia de substituição dos Boeing 707, conhecidos como sucatões, ganhou força no alto escalão do governo nos últimos dois meses, devido a presidente da República requerer uma aeronave apta a fazer voos internacionais sem escalas, oferecendo maior conforto e segurança em suas viagens de trabalho.
Uma fonte que acompanha o processo explicou que por questão de doutrina e segurança, a viagem de um chefe de Estado é sempre feita com dois aviões. Se acontece algum problema, existe um avião reserva. Além das inúmeras paradas técnicas para reabastecimento, as viagens da presidente Dilma no A319 costumam ser acompanhadas do jato Embraer 190, mas o alcance máximo da aeronave é de 8.300 km.
Um avião de alcance maior, da ordem de 15 mil km, na classe do A330 MRTT (Multi Role Tanker Transport), que também pode oferecer uma configuração VIP, ou do Boeing 767 estaria sendo estudado para atender o transporte intercontinental da presidência. Para viagens internas, o governo já usa dois Embraer 190.
O avião A319 atualmente em operação para a presidência, apelidado de Aerolula, custou US$ 56,7 milhões. Já a aeronave A330-200, que estaria cogitada, não sairia por menos de US$ 208,6 milhões (preço de tabela).
A israelense IAI não é fabricante de aeronaves de grande porte, mas faz uma espécie de customização de aviões usados, sobretudo o Boeing 767, conforme especificações do cliente. É uma opção que a FAB também analisa, pois sairia mais em conta - entre US$ 60 milhões e US$ 80 milhões.
Essa alternativa foi adotada recentemente pelo governo da Colômbia. O Valor procurou o representante da IAI no Brasil, mas teve retorno.
O Valor apurou que a Boeing fez uma oferta alternativa ao governo brasileiro, de dois aviões 767 usados, até que a nova versão "tanker" da fabricante, que está em fase final de desenvolvimento para a Força Aérea Americana seja entregue. A assessoria de imprensa da Boeing no Brasil disse que a companhia não teria nada a comentar sobre o assuntos de novo avião presidencial brasileiro.
Da década de 60, os quatro Boeing 707 da FAB operam atualmente de forma precária, fazendo transporte logístico e de reabastecimento em voo. Os sucatões, que antes operavam no Grupo de Transporte Especial (GTE), em Brasília, atendendo a presidência, foram transferidos no ano passado para o Segundo Esquadrão Corsário, do Segundo Grupo de Transporte da FAB, localizado na base do Galeão, no Rio de Janeiro.
Os sucatões têm quatro motores e capacidade para transporte intercontinental. "O grande problema é que eles já estão em fase final da vida operacional e vem apresentando diversos problemas técnicos, além de não poderem pousar em alguns países, devido às restrições de ruído e de poluição", disse uma fonte da Aeronáutica.
Ainda segundo essa fonte, eles têm custo de manutenção muito alto, porque muitas peças já não são mais fabricadas e quase sempre apresentam problemas em voo. Para se ter uma ideia, um avião da classe do "Aerolula" leva, em média, 10 dias para fazer uma inspeção estrutural profunda, enquanto que uma revisão similar no sucatão demoraria até 18 meses.
A Airbus não quis se pronunciar sobre o assunto, porque, segundo sua assessoria, a companhia é obrigada a respeitar o pedido de sigilo do cliente - no caso, a FAB. Qualquer informação sobre a evolução do RFI (pedido de informação feito pela FAB), segundo o diretor de marketing da divisão de jatos corporativos da Airbus, David Velupillai, teria que vir da própria FAB.
Ele comentou, no entanto, que o fato de o governo brasileiro já ter um jato corporativo da empresa para a presidência, o ACJ 319, traz a vantagem da comunalidadade (semelhança de sistemas), que ajuda a reduzir custos de manutenção e de treinamento, além de facilitar o processo de transição de uma aeronave para outra.
Além do Brasil, na América do Sul os jatos da Airbus também são usados pela presidência da Venezuela. Outros países que tem jatos da companhia são França, Itália, Alemanha, República Tcheca e Emirados Árabes Unidos, além de clientes que preferem não divulgar a informação.
O Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (Cecomsaer) informou que o andamento da análise feita a partir das informações enviadas pelas empresas determinará as características intrínsecas do novo avião. "Somente após esta fase será possível estimar a viabilidade de a aeronave cumprir as missões de transporte especial, reabastecimento em voo e o seu custo, considerando a prática do mercado internacional".
O processo de aquisição das novas aeronaves, segundo o Cecomsaer, está na fase de viabilidade, etapa na qual são compiladas todas as informações necessárias.
FAB estuda substituir os 'sucatões'
0