Ativistas acusam o ditador sírio, Bashar Al-Assad, de violar o plano de paz de Kofi Annan e de matar ao menos 10 civis. Conselho de Segurança da ONU deve decidir hoje sobre o envio de monitores ao país
RODRIGO CRAVEIRO – CORREIO BRAZILIENSE
O primeiro dia do cessar-fogo determinado pelo plano de paz de Kofi Annan — enviado da Liga Árabe e das Nações Unidas a Damasco — foi marcado pela desconfiança e por uma frágil e aparente tranquilidade. "A implementação da Convenção Annan não mudou em nada a situação
Em relatório enviado ao Conselho de Segurança da ONU, Annan esboçou otimismo. "A Síria aparentemente está experimentando um raro momento de calma. Isso está trazendo o alívio e a esperança para o povo sírio, que tem sofrido tanto, e por tanto tempo, nesse conflito brutal. A trégua agora deve ser mantida", afirmou. Horas depois, ele confidenciou a diplomatas que Damasco não cumpre com todos os termos do plano. Annan pediu à ONU que ordene a retirada das tropas e das armas pesadas das cidades sírias.
Outro morador de Homs, o ativista Waleed Fares, 25 anos, acusou Al-Assad de violar o cessarfogo.
"Tivemos hoje ao menos sete mortos, vítimas de franco-atiradores. Os militares ainda realizam operações de menor escala na cidade", comentou. Hillary Clinton, secretária de Estado americana, trata o silenciar das armas como um detalhe. "Se for respeitado, o cessar-fogo é um passo importante, mas é só um elemento do plano (de Annan)", declarou, às margens da cúpula do G-8 (grupo formado pelos sete países mais industrializados e pela Rússia).
Integrante do Conselho Nacional Sírio (CNS), Ausama Monajed (leia Três perguntas para) disse ao Correio ter a mesma preocupação de Hillary. "Há seis pontos no plano de Annan, que incluem a libertação de todos os presos políticos, a permissão para o povo se manifestar pacífica e livremente e a autorização para jornalistas estrangeiros entrarem no país", lembrou, por e-mail. "Nada disso ocorreu."
O regime de Damasco culpou "terroristas" pela morte de um oficial do Exército, em Aleppo, a segunda maior cidade do país. "Um grupo terrorista armado usou um explosivo para atingir um ônibus transportando oficiais,
Batalha diplomática
Ante a situação volátil na Síria, o governo dos EUA aposta as fichas na tentativa de pressionar a Rússia a adotar uma postura mais incisiva com Al-Assad, um de seus principais parceiros comerciais.
Hillary Clinton manteve reuniões ontem com os chanceleres Alain Juppé (França) e Sergei Lavrov (Rússia). O próprio Juppé chegou a propor ao Conselho de Segurança o envio à Síria de "uma força robusta de observadores", cuja objetivo será o de verificar o cumprimento do cessar-fogo.
Havia a expectativa de que o esboço de uma resolução nesse sentido fosse apresentado ontem no Conselho. Tanto a Rússia quanto a China mostraram simpatia pelo texto. "Apoiamos integralmente o plano de seis pontos de Annan e cremos que o cessar-fogo é muito importante, assim como a retirada de tropas das cidades sírias", declarou Li Baodong, embaixador da China na ONU, citado pela agência Reuters. "É crucial que os monitores estejam no terreno", afirmou Vitaly Churkin, o representante da Rússia no Conselho de Segurança. A votação sobre o envio de observadores deve ocorrer ainda hoje.