Conversa sobre Irã termina com premiê sublinhando "direito de Israel à autodefesa"
DENISE CHRISPIM MARIN, CORRESPONDENTE/ WASHINGTON - O Estado de S.Paulo
O apelo do presidente dos EUA, Barack Obama, para o primeiro-ministro israelense, Binyamin "Bibi" Netanyahu, não ordenar um ataque às instalações nucleares do Irã em curto prazo foi acatado, mas com resistência. Minutos antes de se fecharem no Salão Oval da Casa Branca para uma conversa de três horas, Netanyahu usou palavras de Obama para reafirmar que Israel tem o "direito soberano de tomar suas próprias decisões".
"Há dois princípios antigos da política americana reiterados por você (Obama), em seu discurso (de anteontem): que Israel deve ter a capacidade de se defender por si mesmo das ameaças e, quando o assunto é sua segurança, Israel tem o direito soberano de tomar suas decisões", disse Netanyahu ao americano. "Esse é o real propósito do Estado judeu: restaurar ao povo judeu o controle de seu próprio destino. Em razão disso, minha suprema responsabilidade como primeiro-ministro de Israel é assegurar que Israel continue a ser senhor de seu destino."
A declaração de Netanyahu antecipou o clima de difícil entendimento entre os dois líderes.
"Concordamos em convencer a comunidade internacional que estamos falando de uma ameaça e um perigo reais (quando mencionam o Irã)", disse Bibi.
O nó central dessa questão, entretanto, continua atado. A Obama não interessa o envolvimento dos EUA numa nova guerra, seja pelo custo político, o provável aumento do petróleo ou o prejuízo para sua campanha de reeleição. O americano vale-se de dois argumentos: o fato de o Irã ainda não ter construído uma bomba atômica e a possibilidade de o país persa vir a sofrer com as sanções mais duras que serão aplicadas em meados do ano, com o bloqueio à importação de seu petróleo pelos europeus.
"Nós realmente acreditamos haver uma janela que permita uma solução diplomática para essa questão. Mas, em última análise, o regime iraniano tem de tomar a decisão de se mover nessa direção, o que ainda não fez", ponderou Obama, com o cuidado de enfatizar que o início de negociações não significa a suspensão das atuais sanções aplicadas contra o Irã.
Israel considera como ameaça à sua segurança o simples fato de Teerã ter capacidade de fazer uma arma nuclear. Essa análise foi reforçada ontem pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que destacou "preocupações sérias com a possível dimensão do programa nuclear do Irã".
Apesar de seu amplo poder militar, Israel precisaria contar com as forças americanas para deter a inevitável reação do Irã a seus possíveis aliados na região.
Esse apoio já foi prometido por Washington como tática para forçar o Irã a avaliar os riscos com frieza e retornar à mesa de negociações. Obama arriscou ontem a dizer que ambos os líderes "preferem resolver a questão diplomaticamente". Mas suas declarações de ontem, de domingo e da semana passada endossaram qualquer que seja a decisão a ser tomada por Netanyahu.
Anteontem, em discurso para o Comitê Americano-Israelense de Assuntos Públicos (Aipac, na sigla em inglês), poderoso lobby judaico de Washington, o presidente americano afirmou estar preparado para empregar a força militar contra o Irã para proteger a segurança de Israel. Suas declarações foram aplaudidas até mesmo por líderes da oposição republicana presentes.
Ontem, Obama reiterou que o laço entre os dois países é "inquebrável" e a posse de arma nuclear por um país que apela pela destruição de Israel é "inaceitável". "Como eu disse ao primeiroministro (israelense) em cada um de nossos encontros, os EUA estarão sempre atrás de Israel quando a questão for a segurança de Israel", afirmou. "É profundamente do interesse dos EUA impedir o Irã de obter uma arma nuclear", completou Obama.