Os parentes do líder da Revolta da Chibata também aguardam a indenização reparatória aos marinheiros que participaram da insurreição em 1910
Adriana Guarda - Jornal do Commércio
Os parentes de João Cândido Felisberto – líder da Revolta da Chibata, que dá nome ao primeiro petroleiro construído em Pernambuco – aguardam com ansiedade a entrega do navio à Transpetro. Em 2010, quando a embarcação foi lançada ao mar, também se comemorava o centenário da revolução. A expectativa da família era que a data comemorativa e a movimentação política em torno da embarcação servisse para pressionar o governo federal a pagar uma indenização reparatória aos marinheiros que participaram da insurreição em 1910. Até agora, nem o navio saiu, nem o pagamento foi feito.
“Aqui no Rio não temos muita informação do que aconteceu com o navio João Cândido. O que sabemos é que ele teve problemas e continua no Estaleiro Atlântico Sul”, diz Adalberto Cândido (o Candinho), caçula dos 11 filhos que o almirante-negro deixou de seus três casamentos. Candinho participou da cerimônia de batismo e lançamento ao mar do petroleiro em maio de 2010, convidado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Nossa torcida é para que o petroleiro seja entregue à Transpetro e leve o nome do meu pai pela costa brasileira afora. Com isso, pelo menos se concretizaria à homenagem a ele, já que continuamos esperando o julgamento sobre a indenização reparatória”, completa Candinho, lembrando que a Prefeitura de São João de Meriti (Rio) – local da última moradia de João Cândido - também está prestando uma homenagem ao herói negro dos mares brasileiros, com a construção de um museu e uma biblioteca.
Especialista em Revolta da Chibata, o pesquisador carioca Marco Morel comenta que os problemas com o petroleiro João Cândido carregam um simbolismo triste. “No aniversário de 84 anos do almirante-negro, um grupo de colegas da Marinha levou para ele um bolo de um metro em formato de navio. Como a casa dele ficava num barranco de difícil acesso, a pessoa que carregava o presente se desequilibrou e o bolo caiu e quebrou. Quando foram explicar ao aniversariante o que tinha acontecido ele disparou: ‘Não se preocupem. Tudo comigo é assim...Difícil’. Isso se aplicaria ao navio pernambucano”, diz Morel.
João Cândido se alistou na Marinha quando tinha apenas 15 anos. Depois do episódio da Revolta da Chibata (rebelião dos marinheiros contra os castigos físicos praticados a bordo dos navios da Marinha), ele foi expulso da corporação e nunca recebeu indenização ou qualquer benefício. Acabou virando comerciante de peixe no rio e viveu momentos de extrema pobreza. Em 2008, os marinheiros que participaram da insurreição foram anistiados pelo governo, mas não receberam qualquer indenização.
“Ficamos entristecidos com as notícias de problemas com o navio que leva o nome do nosso herói. Queremos que ele vá singrar mares para materializar ao menos essa homenagem”, reforça o sobrinho-neto do marinheiro que leva o mesmo nome do tio-avô João Cândido. A estimativa é que existam hoje 200 descendentes do líder da Revolta da Chibata.
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