Por Paulo Ricardo da Rocha Paiva - de Boa Vista - Correio do Brasil
Os aficionados na história universal já ouviram falar na “invencível armada”, mobilizada por Felipe II da Espanha, que enfrentou a esquadra britânica de Sir Francis Drake, para variar um velho lobo do mar que fez e aconteceu com os 130 navios “bem artilhados” de comando do Duque de Medina-Sidônia, facilmente superados pelo maior poder de disparo das ágeis e leves belonaves de Sua Majestade. Senhores, uma força naval séria custa caro. Acontece que precisamos de uma muito mais do que séria para guarnecer litoral que ultrapassa os 7 mil km de extensão, depositário de riquezas incalculáveis, que temos de manter em nossa posse para usufruto das gerações que estão por vir.
Eis que novamente a pasta da defesa é alvo de cortes no orçamento, em volta de R$ 3,3 bilhões, sobrando para manutenção, não só da Marinha, como das demais Forças Armadas, a bagatela de R$ 13 bilhões. Curiosamente a sangria corresponde à metade do preço de custo de um submarino nuclear francês da classe Suffren que, sem prejuízo do negociado com a França com transferência de tecnologia, poderia ser adquirido o mais cedo possível para adestramento das tripulações dos seis submergíveis do tipo, os quais o chefe do Estado-maior da Armada visualiza serem incorporados apenas a partir de 2030.
E agora não é o oficial do Exército leigo no assunto quem fala, mas, sim, um brasileiro interessado como qualquer outro na sua Marinha, que não pertence apenas aos marinheiros, posto que ela é de todos nós. Estou me baseando em fontes fidedignas que se manifestam quanto ao gasto com supérfluos/paliativos em um discutível plano de reaparelhamento da Força. É de se pensar se estaríamos interessados na criação de um memorial aeronaval operacional para visitação pública? Seria possível acreditar que o país ainda procurasse adquirir aeronaves S-2 Tracker desativadas? Isto seria de pasmar na medida em que a marinha dos EUA passou a operar com o avião em meados dos anos de 1950, tendo-os colocado na reserva já na década de 1970. Não seria temerária, para o Brasil do pré-sal, a equipagem de nossos meios aeronavais com esses refugos do “irmão Caim do norte”?
Mas o tributo aos “anos da brilhantina” não para por aí. O caça A4KU, “prima dona” das aeronaves embarcadas, com missão de ataque e proteção da esquadra, é o McDonnel Douglas, algumas poucas unidades, não chegam a 16, compradas em 1997 dos estoques do Kuwait. Estes se encontrariam em modernização pela EMBRAER, onde devem receber nova suíte de aviônicos, incluindo novo radar e dotação com mísseis ar-ar Python 4 e Derby de origem israelense. A pergunta que o vivente quer respondida é se esses modernismos vão capacitar o caça a enfrentar um correspondente de última geração lançado pelos aeródromos dos grandes predadores militares? Afinal de contas queremos ser mártires ou heróis?
Como destinar recursos e otimizá-los da melhor maneira para se obter, com o menor custo, melhor ganho operacional? Por certo, as migalhas que a politicalha descomprometida concede às “Desarmadas Forças”, para o pão de cada dia que se diga, não devem ser empenhadas em equipamentos obsoletos, espécimes que já se constituem em autênticos antológicos dos tempos do onça. Em sendo assim, ao que tudo indica, a ênfase prioritária faz pender novamente para a mais imediata incorporação de submergíveis nucleares à Força Naval.
Mas o cidadão quer saber a razão. Quais as reais vantagens de um submarino nesses moldes que, para nós, não poderia lançar mísseis nucleares, signatários que somos do vil TNP? Ah! Essa belonave é capaz de permanecer por muito mais tempo submersa, tem uma autonomia a perder de vista e pode engajar e desengajar o combate com rapidez inusitada. Todavia, o leigo não quer saber disso. Para nós, marujos de primeira viagem que pagam impostos, queremos saber: qual a capacidade maior que se terá em termos de poder de retaliação ao oponente; se sua construção nos viabiliza o lançamento de mísseis, mesmo que convencionais, na situação de submerso. Em suma, como principais financiadores de uma nação armada, queremos e devemos exigir material que inflija danos ao inimigo e não apenas um tubo que nos permita fugir do combate como o diabo foge da cruz!
Paulo Ricardo da Rocha Paiva é coronel de Infantaria e Estado-Maior.
Armada, esquadra ou flotilha
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