Ayham al-Kurdi, comandante do rebelde Exército Sírio Livre em Hama, Turquia, critica, em entrevista ao "Estado" posição do País
Lourival Sant"Anna - ENVIADO ESPECIAL - ANTAKYA, TURQUIA – O Estado de SP
"O apoio do governo brasileiro ao regime de (Bashar) Assad indica uma visão política estúpida, porque o povo sírio não quer Assad." Esse é o recado para o Brasil do capitão Ayham al-Kurdi, comandante do Exército Sírio Livre (ESL) em Hama, um dos epicentros da guerra civil, no oeste do país.
Em entrevista ao Estado, Al-Kurdi revela que a Líbia tentou enviar armas ao ESL, mas falta um corredor para permitir seu transporte. Um dos primeiros oficiais a desertar, em 27 de junho, quando ainda não havia o acampamento que hoje abriga cerca de mil pessoas, entre militares e suas famílias, Al-Kurdi recebeu o repórter no apartamento de seu irmão, na periferia de Antakya, a
Que tipo de armas vocês tem?
A maior parte são armas leves, fuzis, RPGs (foguetes portáteis) e foguetes Cobra, que tomamos das unidades militares nos combates ou são trazidas pelos soldados desertores. Não temos muita munição. Não temos armas pesadas. Mas temos o moral alto. Se me perguntar o que precisamos, são foguetes antiblindados, munição e equipamentos de comunicação.
Qual o seu efetivo?
Na Síria toda, não sei. Só em Hama, temos entre 600 e 700 homens. Eles se retiraram da cidade depois que vimos o que aconteceu em Homs.
Como vocês se comunicam com o Conselho Nacional Sírio?
O regime cortou todo o contato via celular, mas temos telefones por satélite e rádios.
Como é a cadeia de comando?
Na área de Hama, somos 40 oficiais comandando. Cada oficial é responsável por uma unidade. Temos um conselho militar
Algum país está ajudando?
Só ouvimos pela mídia que querem nos ajudar, mas ninguém fez nada até agora. Só a Turquia, que nos deu abrigo. Temos ajuda de sírios que vivem fora, exilados desde os anos 80, quando Hafez Assad (pai de Bashar) começou a persegui-los.
Alguém perguntou do que vocês precisam?
Todo mundo sabe do que precisamos: uma zona de segurança e um corredor para a entrada de armas, medicamentos, socorro médico e ajuda humanitária. E de ataques aéreos para destruir o 4.º Batalhão, de Maher Assad (irmão de Bashar) e a Guarda Republicana (que protege o presidente). A revolução vai vencer no fim e o regime vai cair, mas dessa forma será mais rápido. A Síria dará no futuro prioridade às relações com os países que nos ajudarem a apressar a derrubada do regime, porque nos pouparão sangue e tempo. O povo sírio está determinado a derrubar o regime e sabe que levará muito tempo. Até agora americanos e europeus não tomaram a decisão política nem militar, mas livrar-se de Assad é mais fácil do que de Osama bin Laden.
O que o sr. acha do argumento de que enviar armas aumentaria as mortes e destruição?
Esse regime nos empurrou para uma guerra sectária, para muito derramamento de sangue, e agora o estamos atacando de todo nosso coração. Ou morre Assad ou morremos nós. O povo sírio está ajudando o ESL, dando-lhe abrigo e comida. O ESL é o responsável pela continuidade dos protestos. Por isso o povo o admira. O ESL só existe para proteger os manifestantes. Se os protestos pararem, não terá mais razão de existir.
Vocês não querem outro (massacre de) Baba Amr, por isso mudaram a estratégia em Idlib e se retiraram. Qual o plano agora?
O ESL não pode enfrentar o Exército regular porque não tem armamento. Não é um verdadeiro exército, por isso estamos fazendo guerra de guerrilha. A comunidade internacional está dando mais tempo para o regime nos matar. Não pudemos pará-lo. Mas isso não significa que nós paramos, porque se pararmos veremos mais sangue. A terra síria se tornou vermelha. Ele vai matar todo mundo.
O sr. tem alguma mensagem para o governo brasileiro?
Sinto muito pela expressão que vou usar, mas o apoio do governo brasileiro ao regime de Assad indica uma visão política estúpida, porque o povo sírio não quer Assad. Todo país deveria entender que deve apoiar o povo, não os governos, porque o povo vence no fim e governos vêm e vão.
Catar e Líbia fizeram contato com vocês?
Os líbios ofereceram armas, mas não temos um corredor, não sabemos como receber munição ou dinheiro para comprar armas. Não posso dar nomes dos líbios, mas são líderes políticos e generais do Exército.