Bloco ocidental admite avanços da milícia Talibã, mas prepara retirada das tropas até o fim de 2013. Militares americanos vão antecipar o fim das operações de combate
Larissa Garcia – Correio Braziliense
Um dia depois de os Estados Unidos anteciparem para 2013 o fim de suas operações de combate no Afeganistão, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, aliança militar ocidental) começou ontem a estudar uma revisão de sua estratégia para o país, levando em consideração a retirada gradual das tropas dos países que integram o contingente. Um recente informe confidencial da Otan, que comanda a força internacional em apoio ao presidente afegão, Hamid Karzai, admite que a milícia islâmica Talibã caminha para voltar ao poder e denuncia o apoio da inteligência do Paquistão aos extremistas.
O secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, anunciou que pretende antecipar a retirada das tropas americanas do Afeganistão até o fim de 2013. Caso a ideia seja concretizada, os militares norteamericanos sairão de combate 18 meses antes da data estabelecida inicialmente para a conclusão da missão. Panetta quer que as forças americanas assumam funções de treinamento e assistência aos militares e policiais afegãos, para que eles possam manter o controle pleno da segurança. A saída do Afeganistão foi uma das promessas que deram a vitória eleitoral ao presidente Barack Obama, em 2008.
Agora, ele tenta recuperar popularidade para se reeleger, em novembro.
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, também anunciou que vai acelerar a retirada de suas forças e concluir o processo também em 2013, e não em 2014. A decisão francesa será discutida durante a reunião da Otan. O anúncio foi feito uma semana depois de quatro soldados franceses terem sido mortos durante uma sessão de treinamento por um militar afegão. A aliança ocidental espera que, além dos EUA, outras potências ajudem a capacitar o Exército e a polícia do Afeganistão.
Atualmente, 99 mil combatentes norte-americanos estão no país, mas 22 mil voltarão para casa até o fim do ano. Já a França mantém 3,6 mil militares, dos quais cerca de mil deverão sairão até dezembro. Embora as duas potências tenham optado por acelerar o processo de retirada das forças, a maior parte dos parceiros da Otan concordou que 2014 seria o ano adequado para completar o processo de transição. Com a promessa da desocupação, há temores de que, com a ajuda do Paquistão, os talibãs voltem ao poder, depois de terem sido derrotados pelas forças americanas em 2001.
Relatório
O relatório da Otan, ao qual a imprensa americana e europeia teve acesso, contraria o teor das declarações oficiais dos EUA, que ressaltam “progressos” na capacitação das tropas afegãs e minimizam a ameaça representada pelos extremistas. Em relação ao suposto apoio da inteligência paquistanesa, a Otan alega que não é a primeira vez que acusações desta natureza são divulgadas.
O texto foi escrito com base em depoimentos de prisioneiros talibãs. Ele contém relatos de cooperação entre extremistas islâmicos e funcionários do governo local, de acordo com o jornal norteamericano New York Times. O estudo diz que “muitos afegãos já estão se preparando para um eventual retorno do grupo fundamentalista”. O governo de Karzai, avalia o texto, “ainda declara a vontade de lutar, mas muitas pessoas ligadas ao poder já estenderam a mão aos talibãs”.