Oposição ao ditador Bashar Al-Assad denuncia genocídio, pede reunião com o Conselho de Segurança da ONU e reclama de ineficiência da Liga Árabe. Civis enfrentam caos humanitário
Carolina Vicentin – Correio Braziliense
Nove meses depois dos primeiros protestos contra o regime sírio, o ditador Bashar Al-Assad empreendeu a maior onda de repressão sobre os rebeldes. Desde segunda-feira, 250 pessoas — boa parte delas civis — foram mortas pelas forças de segurança. O número foi divulgado ontem pelo Conselho Nacional Sírio, que reúne as principais correntes de oposição. A violência, classificada como genocídio pela entidade, motivou o pedido de uma reunião urgente com a Liga Árabe e com os paísesmembros do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Os primeiros observadores internacionais árabes devem chegar à Síria hoje, mas dissidentes e organizações de direitos humanos não acreditam que eles serão capazes de acuar o regime.
Mousab Azzawi, do Observatório Sírio de Direitos Humanos, contou ao Correio que as tropas leais a Assad estão promovendo punições coletivas sem qualquer critério. Em uma das ações desta semana, eles invadiram uma pequena cidade no norte do país e executaram a tiros 56 civis, incluindo 14 crianças. Moradores de Idlib, a 330km da capital Damasco, estavam abrigando cerca de 15 militares desertores. “As forças de segurança pegaram todas as pessoas que estavam nas casas onde os rebeldes foram encontrados, levaram-nas para uma rua central e atiraram indiscriminadamente”, disse Azzawi, um médico sírio radicado em Londres.
Mesmo quem não se envolve diretamente com os desertores acaba sofrendo as conseqüências do clima de guerra. Informações do Observatório Sírio dão conta de que há pessoas sem acesso a comida, água potável e eletricidade há mais de um mês. As comunicações também foram cortadas pelo regime. Azzawi e outros ativistas só conseguem colher relatos por meio de um dos 38 telefones via satélite que mantêm na Síria. Em alguns casos, os rebeldes são alvos de uma verdadeira caçada. “Em muitas cidades, as pessoas não podem sair de casa para comprar alimentos, porque há seqüestradores à espreita. Ficamos sabendo de histórias de gente que se arriscou a pôr o pé para fora da porta e acabou assassinada”, relata Rafif Jouejati, porta-voz dos Comitês Locais de Coordenação (LCC, na sigla em inglês), que reúnem forças de oposição.
Os rebeldes e as organizações de direitos humanos reclamam da ineficiência da Liga Árabe. Há meses, a organização vem dando ultimatos para Al-Assad, sem conseguir demovê-lo da repressão. No início desta semana, a liga fechou um acordo que autoriza a entrada de observadores internacionais no país —
Apelo
O banho de sangue fez com que o Conselho Nacional Sírio recorresse à ONU. O grupo pede uma reunião urgente com o Conselho de Segurança e “o estabelecimento de uma zona de segurança para proteger os civis sírios”. “A comunidade internacional precisa, pelo menos, prover os corredores humanitários para o envio de alimentos e remédios”, defende o ativista Mousab Azzawi. “Todos os dias, seis crianças sírias morrem apenas por não terem acesso a medicamentos”, diz. Ontem, os Estados Unidos divulgaram uma nota em que condenam os “atos repulsivos e deploráveis” cometidos por Al-Assad. Segundo a Casa Branca, o ditador “não merece governar a Síria” e, caso não interrompa a violência, “a comunidade internacional tomará medidas adicionais para pressionar o regime.”
Para analistas, é improvável que o apelo provoque sanções do Conselho de Segurança. Dois dos membros com poder de veto, a China e a Rússia, são aliados da Síria. Os ativistas já perderam a esperança. “Se a comunidade internacional não quiser ver um genocídio, precisa ser rápida. Ou teremos uma grande cicatriz na história”, afirma Rafif Jouejati.