Ahmadinejad ignora solicitação de Obama para que seu país entregue aeronave espiã e acusa os Estados Unidos de violação do espaço aéreo
Renata Tranches – Correio Braziliense
O episódio da captura de um avião teleguiado (drone) norte-americano em território do Irã reforçou o clima de guerra fria entre Washington e Teerã e aumentou as tensões já acirradas por diversos atritos recentes. Um dia depois de o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, exigir a devolução do avião-espião, o governo iraniano rejeitou categoricamente o pedido, alegou que o aparelho passa a ser “propriedade da República Islâmica” e cobrou um pedido de desculpas pela “invasão do espaço aéreo”. O regime garante ter capacidade para decifrar códigos e copiar a tecnologia para equipar suas forças.
As acusações de violação e espionagem norte-americana foram feitas pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Ramin Mehmanparast, ontem, alegando ainda que o fato poderá “pôr em perigo a paz e a segurança mundial”. Na última sexta-feira, o Irã apresentou uma reclamação formal contra a invasão de seu espaço aéreo junto ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ontem, em entrevista à emissora estatal da Venezuela, o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, assegurou que a aeronave agora pertence a seu país. “Os norte-americanos, na melhor das hipóteses, decidiram nos dar esse avião”, afirmou.
Segundo a imprensa norte-americana, fontes da CIA (agência de inteligência dos EUA) dizem que, devido a falhas, o drone, que estaria trabalhando na fronteira do Afeganistão, precisou ser pousado no Irã. Mas para Alexandre Fuccille, especialista em Defesa da Facamp (Campinas) e colaborador da Universidade Nacional de Defesa (EUA), a alegação não faz sentido e tudo aponta que a ferramenta estaria realmente sendo usada para espionagem. “Estavam espionando sim, sem dúvida, o propósito (do drone) é esse”, afirmou, acrescentando que a aeronave foi projetada com potentes câmeras e lentes capazes de alcançar locais inatingíveis para os satélites. Para Fuccille, as queixas de Teerã são válidas, e o país poderá ainda alegar espionagem em seu território, dependendo das provas que forem encontradas entre os registros da nave.
Programa nuclear
Esse episódio é o mais sério da recente história de tensão entre o Irã e os Estados Unidos e aliados. Washington acusa o regime islâmico de conduzir um programa nuclear com o objetivo de produzir uma bomba. O governo iraniano, por sua vez, alega que suas intenções são pacíficas.
Recentemente, um dos mais proeminentes aliados norte-americanos, Israel, ameaçou atacar as instalações nucleares iranianas. Na sequência, depósitos de munição no Irã sofreram explosões e dezenas de pessoas foram mortas, inclusive um comandante dos programas de armas da Guarda Revolucionária. Chegou-se a especular que os ataques seriam sabotagem da Mossad (serviço secreto israelense), mas nenhum dos dois países assumiu a possibilidade.
Em caso envolvendo diretamente os EUA, o governo norte-americano afirmou, em outubro, ter frustrado um plano do Irã para matar o embaixador da Arábia Saudita em Washington, o que Teerã negou veemente. Acrescentando mais um degrau na escalada de tensões, ontem a agência oficial iraniana disse que a Justiça do país indiciou 15 espiões “americanos e sionistas” que estariam conduzindo atividades em seu país.
Queda em Seychelles
A Embaixada dos Estados Unidos em Maurício informou ontem que um avião teleguiado norteamericano (drone) MQ-9 caiu no aeroporto internacional de Mahe, a principal ilha do arquipélago das Seychelles. “O MQ-9 não estava armado e não causou nenhuma vítima”, indicou a embaixada americana, que também abrange as ilhas Seychelles. “As causas do incidente ainda não são conhecidas, mas estão sendo investigadas”, acrescentou. Os EUA usam desde o fim de 2009 aviões teleguiados a partir das Seychelles para localizar piratas somális que operam em torno do arquipélago e no Oceano Índico, complicando a navegação na zona.
Sob aplausos e em meio a uma chuva torrencial, o símbolo da Palestina ganhou espaço em frente à sede da Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), em Paris, 43 dias depois de conquistar o status de membro pleno.
“A Palestina, a terra onde as civilizações se encontraram (...) volta a renascer”, comemorou o presidente palestino, Mahmud Abbas, ao lado da diretora-geral da Unesco, Irina Bokova. Horas depois, Abbas se reuniu com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, cujo país surpreendeu ao votar a favor da admissão palestina na Unesco.
Sarkozy, segundo o líder palestino, reiterou seu “apoio à criação de um Estado palestino independente”.