Impacto de bombardeio, que hoje completa 70 anos, poderia ser menor se advertência tivesse sido considerada
ETHEVALDO SIQUEIRA - O Estado de S.Paulo
O desastre de Pearl Harbor ocorreu há exatos 70 anos, em 7 de dezembro de 1941. O radar funcionou, mas ninguém deu ouvidos ao operador, soldado Joseph Lockard, que tentou convencer seus superiores de que havia indicações seguras da aproximação de grande número de aviões em direção à base de Pearl Harbor, no Havaí. A advertência foi feita às 7 horas, com antecedência de 55 minutos em relação ao início do ataque dos primeiros 200 aviões japoneses, num dos maiores bombardeios aéreos da história.
Joseph tentou acordar um dos coronéis, que havia passado a noite numa festa animada e tinha retornado de madrugada, alcoolizado. A resposta do oficial foi contundente: "Vá para o inferno, Joseph, você e sua máquina maluca. Deixe-me dormir. Hoje é domingo. O que você está vendo talvez seja uma fortaleza voadora B-17 que está vindo da Califórnia..."
Outros oficiais determinaram que o soldado Joseph voltasse para sua máquina estranha, pois ninguém poderia supor que o Japão tivesse planos de atacar a frota naval americana naquele dia. Uma missão japonesa estava há dias em Washington para negociações.
Os japoneses, sob o comando do vice-almirante Nagumo Chuichi, iniciaram o ataque a Pearl Harbor, de um ponto a
O comandante-chefe da frota aeronaval japonesa, almirante Yamamoto Isoroku, havia planejado com muito cuidado e pensado em todos os detalhes o ataque de surpresa, exatamente no momento em que uma missão diplomática estava em Washington.
Depois de uma hora de bombardeio devastador, havia 2.402 americanos mortos, entre eles 1.177 marinheiros e oficiais de 3 couraçados, até mesmo o USS Arizona, símbolo e orgulho da Frota do Pacífico, vários cruzadores, destróieres e 193 aviões que nem sequer tiveram tempo de decolar.
O mais surpreendente de Pearl Harbor, hoje, 70 anos depois, é lembrar que o desastre poderia ter sido evitado ou, pelo menos, reduzido a proporções muito menores se os oficiais responsáveis pela segurança tivessem dado ouvidos ao soldado Joseph, que os tentou acordar quase uma hora antes do ataque da aviação japonesa.
Falhas. Em entrevista que me foi concedida em 1979, em Genebra, o escritor e cientista Arthur C. Clarke, confirmou a existência de dois radares
Clarke, que era engenheiro de telecomunicações, trabalhou durante a 2.ª Guerra, em 1940 e 1941, no desenvolvimento dos primeiros radares, fazendo testes de ambos os lados do Canal da Mancha, na Inglaterra e no litoral da Bélgica. "Tomei essa decisão, diante dos arrasadores bombardeios impostos a Londres pela aviação alemã."
O grande escritor lembrou que a Real Força Aérea (RAF) britânica havia enviado aos Estados Unidos um dos maiores especialistas em radares, Robert Watson-Watt, como conselheiro, para orientar os militares americanos no uso da nova tecnologia de defesa. Depois do episódio de Pearl Harbor, Watson-Watt concluiu que havia grandes falhas de coordenação no sistema de informações militares americanas, sem unificação, em especial, naquele momento do ataque japonês. Além disso, os oficiais americanos pareciam não acreditar na eficácia do radar.
Tudo indica que os militares japoneses não tinham a menor ideia da existência do radar – ainda considerado uma arma secreta dos aliados. Até o nome do equipamento era desconhecido. Seu codinome era "direction finder" - ou localizador de direção -, revelou Arthur Clarke.
Como resposta ao ataque japonês, os Estados Unidos declararam guerra ao Japão e passaram a ajudar os aliados na Europa. Pearl Harbor foi considerado um símbolo de traição. E no local do ataque ficaram expostos por quase quatro décadas os destroços dos navios destruídos. Em 1980, foi inaugurado o memorial USS Arizona.