Alberto Masegosa - EFE
Cabul, 13 nov (EFE).- O principal porta-voz da milícia talibã no Afeganistão, Zabiullah Mujahid, afirmou neste domingo que o movimento rebelde é mais forte hoje que dez anos atrás, quando foi derrubado do poder pela intervenção dos Estados Unidos no país, pois, segundo ele, os insurgentes "ganharam experiência política e militar".
"Agora podemos atuar na totalidade do país", afirmou Mujahid em entrevista por telefone à Agência Efe de um lugar não especificado da fronteira entre Paquistão e Afeganistão, uma década após a queda do regime talibã em Cabul.
O porta-voz insurgente enfatizou o poder do movimento. "Somos capazes de desestabilizar qualquer região, inclusive o vale do Panjshir", ao norte da capital afegã, onde a milícia talibã nunca conseguiu operar durante os cinco anos em que ocupou o governo.
Mujahid atribuiu a queda do regime talibã exclusivamente à "invasão das tropas estrangeiras" e destacou que os rebeldes continuarão a lutar "enquanto houver forças ocupantes, o país não seguir os preceitos do islã e os americanos tiverem o poder".
"A guerra santa é o único modo de mudar essa situação e trazer prosperidade ao povo", declarou o porta-voz, que chamou de "farsa" o processo de reconciliação nacional buscado pelo presidente Hamid Karzai. "É mais um espetáculo para mostrar à imprensa internacional que é o homem que trará a paz aos afegãos. Nunca terá sucesso".
De acordo com fontes dos serviços de inteligência locais, o pseudônimo de Zabiullah Mujahid esconde a identidade de Qari Nesser Ahmed, um médico que viveria na localidade paquistanesa de Chaman, próxima à fronteira com o Afeganistão.
Nessa mesma região fica a cidade de Quetta, onde, segundo essas fontes, estaria escondido o líder do movimento talibã, mulá Omar.
"O movimento talibã se sente forte", apontou à Efe um ex-funcionário do antigo regime talibã, Waheed Mozhdah, atual analista político em Cabul, onde escreveu vários livros sobre seu antigo movimento.
"Quando o talibã se sente fraco, cala. Quando se sente forte, fala, como agora", explicou Mozhdah, que durante a meia década de governo talibã exerceu o cargo de diretor do departamento de Assuntos Asiáticos e Oriente Médio no Ministério das Relações Exteriores.
"Seu discurso é como o de 1996, quando tomaram o governo. O então presidente Burhanuddin Rabbani - assassinado por um terrorista talibã suicida em setembro passado -, lhes ofereceu compartilhar o poder, mas rejeitaram a oferta porque se sentiam fortes", explicou Mozhdad.
"O presidente Karzai também lhes propôs agora compartilhar o poder, mas rejeitaram a oferta. A razão é que eles se sentem fortes", acrescentou.
O ex-membro do antigo regime talibã não descartou que o movimento recupere o poder assim que, de acordo com o calendário previsto, as tropas internacionais se retirem totalmente do país, em 2014. "No Afeganistão tudo é possível", foi sua resposta.
"Eles estão cientes de que, quando estiveram no poder, cometeram erros", reconheceu Mozhdah, que revelou que, durante todo este tempo desde que saiu do poder, não perdeu o contato com seus antigos correligionários. "Me telefonam de vez em quando, sobretudo à noite".
"Se recuperarem o poder, mudariam algumas coisas em relação a seu anterior regime, mas na essência seria igual", concluiu o analista.
Talibãs se consideram mais fortes que há 10 anos, quando perderam o poder
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