Os debatedores que estiveram na CRE não identificaram ameaças imediatas, mas apontaram que uma estratégia de segurança exige o exame dos possíveis atritos
Jornal do Senado
Embora não se identifique nenhuma ameaça concreta de curto prazo à integridade do país, o Brasil precisa levar em conta ameaças potenciais ao traçar a sua estratégia de segurança nacional. A recomendação foi feita por especialistas na área de defesa que participaram de audiência pública promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), dentro do ciclo Rumos da política externa brasileira (2011-2012).
O general Luiz Eduardo Rocha Paiva, da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, defendeu maior integração entre diplomacia e defesa nacional. Ele lamentou que as lideranças militares tenham sido "alijadas do núcleo decisório de Estado" e alertou que "áreas de fricção" internacionais começam a aproximar-se da costa ocidental da África e do Atlântico Sul. É necessária uma estratégia, na sua opinião, para proteger os aquíferos do país, os minerais estratégicos, a biodiversidade, o petróleo e o gás. Para ele, o estado de Roraima já pode ser considerado um alvo de ameaça, assim como a região da foz do Amazonas. Ele lembrou ainda a fronteira do Brasil com a Guiana Francesa e com dois países — Suriname e Guiana — muito ligados a potências europeias que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
— As Guianas são uma cabeça de ponte da Otan. Precisamos encarar os conflitos enquanto eles são ainda apenas possíveis e fazer o possível para que não se tornem prováveis, pois aí já seria tarde demais. Defesa não se improvisa — afirmou Paiva no painel O papel das Forças Armadas, a que compareceram diplomatas de países como Cuba, Venezuela, Irã e Índia.
O poder de influência da Otan também foi ressaltado por João Quartim de Moraes, professor titular da Unicamp. Ele recordou que a organização não foi dissolvida após o fim da Guerra Fria. Ao contrário, ela se fortaleceu e mostrou "maior agressividade do que tinha mostrado até então". Em vez do período de paz que se esperava no início da década de 90, teve início uma "sequência quase ininterrupta de agressões abertas e descaradas", como parte de "recolonização planetária" pela Otan.
— É perceptível uma ameaça ao Brasil do bloco da Otan? Não. Mas devemos desencorajar expectativas de alguém que queira apoderar-se daquilo que nós temos e os demais não têm. Ou então renunciamos à política externa independente — disse Quartim.
Faltam opiniões sobre defesa, lamenta consultor
O consultor do Senado Joanisval Brito Gonçalves lamentou o desinteresse dos formadores brasileiros de opinião a respeito do tema da defesa nacional. Falta uma "percepção clara" das ameaças às quais o Brasil estaria submetido, avaliou.
O presidente da comissão, Fernando Collor (PTB-AL), recordou que, no seu governo, no início da década de 90, imaginava-se que o século 21 seria marcado apenas por guerras comerciais, o que "infelizmente não tem sido possível". Ele ressaltou, por outro lado, que não foram os países emergentes os responsáveis pelos "dissabores" provocados pelas crises econômicas -mundiais de 2008 e atual.
— Não fomos nós que criamos a crise. Foram os países mais ricos, que sempre souberam de tudo — disse Collor.
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