Presidente defende aposentadoria de armas nucleares e mais poder para a AIEA
Cristiane Jungblut - O Globo
A presidente Dilma Rousseff pregou ontem, em reunião na ONU sobre Segurança Nuclear, a aposentadoria das armas nucleares no futuro e defendeu que haja fiscalização tanto do uso da energia atômica para fins pacíficos como de arsenais militares. Ela avisou que o Brasil continuará usando esse tipo de energia, ressaltando, com ênfase, que o país tem compromisso com o uso pacífico da energia nuclear e que está construindo uma nova usina, a Angra III. A reunião foi convocada para discutir o uso da energia nuclear após o acidente de Fukushima, no Japão.
A posição da presidente foi considerada firme, mais enfática e mais esclarecedora do que a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por ocasião da polêmica sobre a inspeção ou não no Irã pelos técnicos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Na época, houve um certo desconforto com posições simpáticas do Brasil ao presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. Em novembro de 2009, Lula esteve com Ahmadinejad e defendeu o direito do país de utilizar energia nuclear para fins pacíficos - sob a desconfiança da comunidade internacional. O recado dela, segundo diplomatas brasileiros, foi para que o Brasil deixasse bem clara sua posição.
- É imperativo ter no horizonte previsível a eliminação completa e irreversível das armas nucleares. A ONU deve se preocupar com isso. O desarmamento nuclear é fundamental para a segurança, pilar do Tratado de Não Proliferação, cuja observância as potências nucleares devem ao mundo - disse Dilma, relacionando o fim dos arsenais nucleares à reforma do Conselho de Segurança da ONU.
- Precisamos, sim, aposentar os arsenais nucleares. Temos, sim, de avançar na reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ele tem sido o baluarte da lógica do privilégio nuclear, por mais de 65 anos, e legitima o acúmulo de material físsil nas potências nuclearmente armadas.
Em sintonia com Ban e Sarkozy
Para Dilma, a AIEA deveria ter poder de investigar tanto material pacífico como militar de todos os países.
- Sabemos que o mandato da agência atômica se limita ao uso da energia nuclear para fins pacíficos. Todo estoque de material nuclear voltado para uso militar escapa, de fato, dos mecanismos multilaterais de fiscalização, controle e salvaguardas. Seria, sem dúvida, necessário, para fins de segurança, fiscalizar ambos. Redobremos nossos esforços em prol do desarmamento geral e completo das armas nucleares sob controle internacional estrito e efetivo - declarou a presidente.
O que Dilma quis dizer, sem citar nomes, é que o arsenal das potências nucleares também tem de ser fiscalizado e não apenas as usinas de produção de urânio declaradas de fins pacíficos, como as de países emergentes como o Irã e o próprio Brasil. O governo brasileiro tem sido pressionado a assinar um protocolo permitindo visitas-surpresas de inspetores da AIEA às usinas do país, mas já avisou que não vai ceder.
A presença de Dilma na reunião de alto nível sobre segurança nuclear foi um pedido expresso do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon. E as palavras dela encontraram respaldo nos discursos do próprio Ban, que defendeu "fortes ações internacionais para melhorar a segurança", e do presidente da França, Nicolas Sarkozy.
- Os mais altos padrões (de segurança) devem ser aplicados a todo mundo, em todos os continentes. Deve haver uma harmonização dos padrões de segurança - disse o francês, advertindo sobre a necessidade de um projeto de ação conjunta para responder a catástrofes como a da usina japonesa de Fukushima.
Dilma também lembrou a preocupação gerada pelo acidente nuclear no Japão:
- Depois de Fukushima, determinei estudos adicionais nas instalações brasileiras para identificar fatores excepcionais de risco, de acordo com as orientações da AIEA.
Dilma quer inspeção em arsenais
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