Por Tarso Veloso | Valor
De Brasília
O governo federal decidiu manter tropas do Exército na região de fronteira seca dos Estados do Paraná e Mato Grosso do Sul com o Paraguai para garantir a fiscalização e o controle do trânsito de gado e produtos de origem animal. A razão para a medida é o foco de febre aftosa descoberto no país vizinho. A doença foi detectada em bovinos de uma fazenda na região de Sargento Loma, no Departamento de San Pedro, no centro do Paraguai.
A medida, apurou o Valor, foi decidida durante viagem do presidente da República em exercício Michel Temer e dos ministros da Agricultura, Mendes Ribeiro, e da Defesa, Celso Amorim, ao Rio Grande do Sul. Parte da cúpula do governo esteve na quarta-feira em Porto Alegre (RS) para avaliar os resultados da chamada "Operação Ágata 2", ação de repressão a crimes nas fronteiras comandada pelas Forças Armadas.
As manobras do Exército, que mantém sete mil homens nessas regiões de fronteira, seriam encerradas amanhã. Mas o ressurgimento da aftosa no Paraguai levou o governo brasileiro a optar pela manutenção da tropa.
O ministro Mendes Ribeiro marcou uma reunião para hoje, na capital gaúcha, com secretários do Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (Codesul), e o secretária de Produção de Mato Grosso do Sul para discutir ações de vigilância de aftosa. Será a primeira reunião de todos os representantes dos Estados e do governo federal para alinhar as diretrizes de ação nesse episódio.
Embora mobilizado após o surto no Paraguai, o governo brasileiro sofre críticas em relação à sua atuação. O presidente do sindicato dos fiscais agropecuários (Anffa), Wilson de Sá, apontou ontem a piora nas condições de trabalho após o bloqueio do orçamento do Ministério da Agricultura. "Houve uma paralisação nos serviços e não querem admitir", afirmou. "O deslocamento [dos fiscais] está esbarrando na falta de orçamento. O contingenciamento afetou diretamente nossas atividades. Vários colegas têm dificuldade em viajar para a região fronteiriça", disse Sá.
Um problema para a vigilância, segundo os fiscais, é a extensão da fronteira entre Brasil e Paraguai (1.365 km) e a existência de estradas clandestinas na região. A combinação das duas características pode colocar em risco os rebanhos brasileiros, segundo a Anffa, sindicato dos fiscais de produtos de origem animal e vegetal.
Responsáveis pelo controle de produtos agropecuários, os fiscais federais afirmam trabalhar com uma estrutura "insuficiente". Atualmente, o Ministério da Agricultura conta com 3.549 profissionais na ativa, segundo a Anffa. Pouco mais de 500 operam no serviço de vigilância agropecuária internacional (Vigiagro).