Os rebeldes líbios usaram uma aeronave não tripulada de vigilância (também conhecido como drone) de fabricação canadense em suas operações de ataques coordenados contra forças leais ao ditador Muammar Gaddafi, segundo informações do jornal "The New York Times".
Ian Austen | The New York Times
Ottawa (Canadá) - Segundo David Kroetsch, presidente da fabricante do drone, Aeryon Labs, de Ontario, Canadá, sua empresa foi consultada por um representante do Conselho Nacional de Transição (CNT) no início de junho, depois que integrantes do grupo líbio descobriram a aeronave da empresa de vigilância em uma pesquisa na internet.
A aeronave é essencialmente um pequeno helicóptero de quatro hélices com câmeras de visão noturna. O aparelho é extremamente compacto. A empresa diz que ele pesa cerca de dois quilos e cabe em uma mochila e que seu operador não precisa de nenhum conhecimento de vôo. O drone é controlado pelo rastreamento de rotas traçadas em mapas exibidos em uma tela sensível ao toque. Seu preço é de cerca de R$ 120 mil.
"Eles sabiam que precisavam de apoio aéreo, porque estavam cegos lutando no chão", disse Kroetsch. "Mas eles não podiam pagar helicópteros".
A Aeryon entrou em contato com o governo canadense sobre a venda potencial, tanto para aprovação quanto para verificar a identidade dos compradores. Kroetsch disse que o governo não colocou qualquer objeção, em parte porque a venda envolveu uma versão civil do drone movido a bateria, por vezes utilizado pelas empresas petrolíferas para pesquisa.
A venda exigiu o que Kroetsch chamou de "uma série de conexões" durante várias semanas. "Foi um jogo muito complicado que envolveu várias pessoas", disse Kroetsch. "De modo geral, não é um grupo organizado".
Em última instância, o drone foi comprado em nome do conselho por uma empresa de segurança privada com sede em Ottawa, a Zariba, que oferece treinamento e suporte operacional para outros clientes da Aeryon.
Charles Barlow, o presidente da Zariba, disse que intermediou a compra, e que a negociação envolveu centenas de e-mails entre as pessoas em oito países.
Barlow entregou o drone em julho, durante em uma viagem de 18 horas de Malta para o porto líbio de Misrata em um antigo navio de pesca sul-coreano fretado pelos rebeldes. O navio também estava levando uma equipe de filmagem da BBC, duas ambulâncias da Cruz Vermelha Alemã, engenheiros e alguns especialistas em remoção de minas.
Barlow disse que ele ficou em Misrata por dois dias para treinar os operadores do drone, enquanto o porto da cidade estava sob ataque constante.
Quando ele deixou Misrata, Barlow foi informado de que o avião seria usado pela primeira vez para o levantamento da estrada para Tripoli. Mas não está claro em quais operações o aparelho tem sido usado. "Eu ouvi de integrantes do CNT que eles estavam muito felizes com ele e queriam comprar mais aparelhos", disse Barlow. "Agora parece que eles não precisam deles".
Segundo o New York Times, o Departamento de Relações Exteriores canadense não respondeu aos pedidos para comentar o assunto. Não houve confirmação independente da venda aos rebeldes na Líbia.