Novo ministro da Defesa também defendeu Venezuela no Mercosul, além de expor mais seu pensamento
Cleide Carvalho - O Globo
SÃO PAULO. Ao longo do primeiro semestre deste ano, o agora ministro da Defesa, Celso Amorim, publicou uma série de artigos na revista "Carta Capital", nos quais mostrou suas ideias mais à esquerda. Em abril passado, no artigo "Consequências de um voto", Amorim condenou a posição do governo Dilma de apoiar a resolução do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, que instituiu um relator especial para o Irã. O ex-chanceler também defendeu a necessidade de incorporar a Venezuela ao Mercosul e a aproximação com os países da África.
Para Amorim, o Brasil vinha conseguindo vitórias nas negociações com o Irã ao contribuir para uma solução pacífica e negociada em relação ao programa nuclear iraniano, e, com o apoio ao relator especial, poderia deixar de ser ouvido pelo governo de Ahmadinejad. Para exemplificar o mal estar que causaria a instituição de um relator especial, Amorim lembrou a posição de Cuba, que admitia discutir com o Alto Comissário das Nações Unidas avanços na área de direitos humanos, mas não concordava em receber um relator especial. Sobre o voto do Brasil, assinalou: "Pode-se concordar ou não com ele, mas dizer que não afetará as nossas relações com Teerã ou a percepção que se tem da nossa postura internacional é tapar o sol com a peneira".
Em outro artigo, "A era do preconceito", ao avaliar o noticiário sobre os atentados em Oslo, o exchanceler do governo Lula ressaltava que as primeiras informações davam conta de um atentado de grupos islâmicos e atribuía a pressa em culpar o fundamentalismo islâmico ao preconceito cultivado no Ocidente. O preconceito, assinalou, era o mesmo que levara à execução do ex-presidente do Iraque Sadam Hussein. "Não sejamos inocentes. Interesses econômicos e políticos, e não apenas preconceitos, motivaram a decisão de atacar o Iraque. Mas o pano de fundo de uma visão particularista do mundo, em que "diferente" se torna sinônimo de "inimigo", ajuda a criar o caldo de cultura de que se valem os líderes para obter, das populações que governam, o indispensável apoio às suas custosas aventuras bélicas".
Questões do passado têm respostas insatisfatórias
No artigo "A África tem sede de Brasil", Amorim defendeu uma aproximação mais efetiva com o continente africano. "De Moçambique a Namíbia, de Gana a São Tomé e Príncipe, cada um a seu modo e de acordo com suas características e dimensões, veem no Brasil um modelo a ser seguido".
Comentando sobre o Egito, em "O Egito será o próximo Brasil", Amorim compara a situação daquele país ao Brasil: "Muitas destas questões nós enfrentamos no passado, com respostas que muitos até hoje não consideram satisfatórias, entre elas as relações entre o poder civil e os militares, a responsabilidade por atos cometidos durante o ancien régime ou enquanto durou a repressão.