Presidente reconhece que, embora a troca de comando faça parte da rotina, "mudanças importantes sempre provocam tensão"
Rafael Moraes Moura e João Domingos / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Ao empossar o novo ministro da Defesa, Celso Amorim, a presidente Dilma Rousseff reconheceu ontem que, embora a troca de comando faça parte da rotina, "mudanças importantes sempre provocam tensão". "Elas (mudanças) requerem cuidado, elas cobram sensatez e exigem escolhas bem refletidas", afirmou Dilma, para quem a troca de comando "faz parte da rotina, desde que se troque o comandante mas não se deixe de fazer o que tem de ser feito". E reiterou confiança no ex-ministro de Relações Exteriores em sua nova função: "É o homem certo no lugar certo".
Ao enaltecer as qualidades de Amorim, Dilma fez questão de ajudar o novo ministro no trato com as Forças Armadas. "Ele tem qualidades pessoais que o aproximam muito dos senhores militares de longa formação: cultura e preparo técnico, coleguismo e solidariedade no ambiente de trabalho, moderação nas manifestações públicas, elegância no relacionamento, profissionalismo e método na atividade como homem público", afirmou.
Em seu primeiro discurso como ministro da Defesa, Amorim disse haver "um descompasso entre a crescente influência internacional e a capacidade de respaldá-la no plano da Defesa", em alusão à antiga pasta da qual foi titular e o novo desafio no governo. "Somos detentores de riquezas, cabe ao Estado resguardar nossas extensas fronteiras.
Além da defesa da população, devemos proteger nossos recursos naturais", disse Amorim, num tema que agrada às Forças Armadas. E prosseguiu: "Um país pacífico não pode ser confundido com um país desarmado", disse. "Cabe a mim empenhar e obter os recursos indispensáveis e equipamento adequado às Forças Armadas. Conto para tanto com a compreensão dos colegas da área financeira", discursou.
O novo ministro da Defesa também citou temas mais sensíveis aos militares, como questões de direitos humanos, mas ressaltou ver nas Forças Armadas "valores dignos de admiração". "Devemos valorizar a discussão de temas como direitos humanos, desenvolvimento sustentável, igualdade de raça, gênero e crença", afirmou.
África. Amorim também falou das relações do Brasil com os países africanos, que marcou sua passagem pelo Ministério das Relações Exteriores nos dois governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Devemos reforçar a cooperação com países da região. Pretendo atribuir ênfase no relacionamento da defesa com países africanos, juntamente com o Itamaraty, continuaremos a dar nossa contribuição", afirmou. Amorim destacou também o papel do serviço militar como "instrumento de ascensão social" e disse que as Forças Armadas devem, cada vez mais, refletir as características do povo brasileiro.
Depois da cerimônia, Amorim afirmou que não deve haver permanência para sempre das tropas brasileiras no Haiti nem retirada irresponsável.
Jobim se exclui de cerimônia e nem é citado em discurso
O ex-ministro Nelson Jobim não compareceu à solenidade de ontem no Ministério da Defesa.
Desde sexta-feira, Jobim havia informado o governo que não iria participar da cerimônia de transmissão de cargo.
Ontem pela manhã, alegou uma suspeita de dengue para não ir à solenidade. Ele estaria aguardando os resultados de exames a que se submeteu. Jobim teria contraído a doença durante a viagem da semana passada ao Amazonas - último compromisso oficial antes de sua demissão.
Já a presidente Dilma Rousseff não citou o nome do ex-ministro durante seu discurso. Mais: ao apresentar o sucessor de Jobim, Celso Amorim, falou de sua moderação em manifestações públicas, método na atividade como homem público e, sobretudo, disciplina e respeito à hierarquia. Os elogios foram entendidos como uma alfinetada no ex-ministro.
''Amorim é homem certo no lugar certo'', diz Dilma
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