Detidos na Vila Militar, onde houve um furto de munição, 650 soldados e oficiais dormem até no chão
Ronaldo Braga - O Globo
Familiares de cerca de 650 soldados e oficiais detidos no Batalhão Escola de Comunicações, na Vila Militar, em Deodoro, foram para a porta da unidade, onde, na semana passada, foi constatado um furto de munição para armamento pesado, totalizando 2.525 cartuchos — de pistolas 9mm a fuzis 762. Eles disseram que pretendem procurar o Comando Militar do Leste porque alguns militares informaram, por celular, que têm se alimentado mal e que a situação é precária nos alojamentos.
Segundo a mãe de um soldado, que não quis se identificar, o prazo de prisão de 72h expirou, mas a ordem seria manter todos presos.
Um soldado aquartelado contou que não está numa cela, mas não pode deixar o local.
— Estamos presos porque não podemos sair do quartel. Nosso direito de ir e vir está sendo violado. Segundo o comando, a liberação só acontecerá quando o problema for solucionado — contou o militar.
Há apenas dois fogões para fazer a comida de todos
Com um filho lotado no batalhão, Maria da Conceição Ribeiro, de 58 anos, que mora em Bangu, na Zona Oeste, afirmou que está revoltada, assim como outros pais de militares detidos pela forma com que o caso está sendo tratado:— Não é prendendo todo mundo que eles vão esclarecer o furto. Pretendemos procurar o Comando Militar do Leste para tomar conhecimento de como estão nossos filhos. Eles estão detidos desde a semana passada.
Sem entrar em detalhes sobre o desaparecimento da munição, a Seção de Comunicação Social do Exército confirmou, anteontem, o desvio, que teria ocorrido no último dia 27. O problema foi constatado durante uma conferência diária de armamento e munição. Ainda segundo a órgão, o fato está sendo apurado por meio de Inquérito Policial Militar (IPM), instaurado pelo comando daquela unidade militar. Os familiares dos presos, no entanto, informaram que o roubo foi no feriado de Corpus Christi, no dia 23.
Ainda de acordo com militares que estão na unidade, o rancho do quartel está em obras e a comida, que antes era feita em cinco fogões, agora está sendo preparada em apenas dois, o que compromete a qualidade da alimentação.
— A refeição sempre atrasa, embora a equipe do rancho esteja se esforçando. Os alojamentos de cabos e soldados têm camas, mas elas são insuficientes para todos — disse um deles, acrescentando que muitos militares estão dormindo no chão ou em colchões levados por familiares.
— Uns estão dormindo em sofás ou dentro de seus automóveis. Outros estão dormindo nas mesas ou no próprio chão da seção onde trabalham.
O site do Exército informa que, entre as atribuições do Batalhão Escola de Comunicações, estão a realização da segurança na área de sua jurisdição e também a instalação, exploração e manutenção do sistema de comunicações do Comando Militar do Leste, da 1ª Divisão de Exército, do Grupamento de Unidades Escola e da 9ª Brigada de Infantaria Motorizada.