Segundo ‘The Guardian’, 27 países do bloco europeu acertaram no início do mês operação terrestre para abrir corredor humanitário em Misrata, reduto rebelde no oeste do território líbio sitiado por Kadafi; ação dependeria agora do aval de escritório da ONU
Andrei Netto - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / PARIS
A União Europeia (UE) já teria pronto um plano de operações para o ingresso de pelo menos mil soldados, em especial britânicos e franceses, no território da Líbia. O objetivo da estratégia seria garantir o acesso de assistência humanitária à cidade de Misrata. Sitiado há 50 dias, o município de 300 mil habitantes é o mais severamente bombardeado pelo regime, em ataques que já teriam deixado mil mortos.
A revelação foi feita ontem pelo jornal britânico The Guardian. Segundo a reportagem, o plano foi traçado em Bruxelas e dependeria apenas do aval das Nações Unidas para que seja posto em prática.
O projeto, denominado Eufor, teria obtido a aprovação dos 27 países da UE no início do mês. A intervenção militar terrestre seria estritamente humanitária, com a criação de corredores de auxílio, segurança de portos e escolta de navios, entre outras medidas.
Além disso, os soldados teriam autorização para revidar a eventuais ataques em caso de bombardeios pelo regime de Muamar Kadafi.
Caso venha a se concretizar, a programa Eufor será a primeira intervenção militar por terra na Líbia. O plano da UE, entretanto, aguardaria um parecer do Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), da ONU, para ser levado adiante.
Corredor humanitário. Coincidência ou não, a ONU anunciou ontem ter obtido do governo de Kadafi garantias para o fornecimento de assistência humanitária, com apoio da organização não governamental Crescente Vermelho à cidade de Misrata, um dos focos da resistência rebelde na Líbia.
Assim, pela primeira vez as Nações Unidas e uma entidade humanitária internacional ingressarão em uma área da Líbia sob o poder de Kadafi. Há mais de um mês, a instituição fornece ajuda humanitária à cidade de Benghazi, sede do movimento revolucionário.
"Há dezenas de milhares de pessoas cujas necessidades básicas não são satisfeitas. Temos um grave problema", afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, durante visita a Budapeste, na Hungria.
O acordo para enviar ajuda humanitária foi obtido no domingo, durante uma visita da secretáriageral adjunta para Assuntos Humanitários da ONU, Valerie Amos, e de Abdullah al-Khatyb, enviado especial de Ban.
A organização estima que 3,6 milhões de pessoas - de uma população total de 6,1 milhões de líbios - precisariam de ajuda humanitária por causa do impasse político e dos cercos promovidos pelo regime a cidades como Misrata, Az Zintan e Nalut.
Em Trípoli, o porta-voz do regime, Moussa Ibrahim, confirmou o acordo.
"Vamos permitir à população deixar Misrata em segurança, assim como fornecer ajuda, víveres e medicamentos", afirmou a jornalistas.
COM AFP E REUTERS
PARA ENTENDER
A resolução do Conselho de Segurança da ONU que autorizou a intervenção da Otan na Líbia, adotada em fevereiro, é ambígua em relação à imposição de um corredor humanitário com forças terrestres. O texto explicitamente veta a "ocupação" do território líbio por tropas estrangeiras. Países europeus, porém, argumentam que a medida não se enquadra na categoria "ocupação", por ter um caráter temporário e humanitário. A resolução da ONU assegura ainda o direito de se recorrer a "todos os meios" para proteger civis.
União Europeia tem plano de invasão por terra da Líbia, revela jornal
0