Após ofensiva do regime, oposição retoma controle sobre Ajdabiya com forte apoio de bombardeio aliado; combates deixam ao menos 19 mortos
O Estado de SP / REUTERS
BENGHAZI, LÍBIA
Com forte apoio aéreo da Otan, rebeldes líbios retomaram ontem o controle sobre a cidade de Ajdabiya, 150 km a oeste de Benghazi, palco de uma sangrenta ofensiva das forças do ditador Muamar Kadafi no sábado. Bombardeios aliados destruíram 11 tanques na região e pelo menos 15 soldados do regime e 4 rebeldes morreram nos confrontos.
Ao mesmo tempo que sofria uma nova derrota no campo de batalha, Kadafi prometia a uma delegação de líderes africanos discutir um "mapa da estrada" para encontrar uma solução política para a crise. O grupo de presidentes que se reuniu com o líder líbio foi liderado pelo sul-africano Jacob Zuma.
Analistas, porém, duvidam que Kadafi leve a sério a promessa de diálogo.
Em Bruxelas, o comando da Otan anunciou que, ao todo, foram destruídos ontem 25 blindados de Kadafi - 11 em Ajdabiya e 14 em Misrata, único reduto rebelde no oeste da Líbia, sitiado há seis semanas.
"A Otan deve fazer isso todo dia para nos ajudar. É a única forma de ganharmos essa guerra", disse Tarek Obeidy, rebelde de 25 anos, diante de corpos enfileirados de militares pró-Kadafi, em Ajdabiya. Perto dali, corpos de quatro rebeldes degolados foram encontrados.
As forças opositoras reclamaram na semana passada do apoio "insuficiente" da aliança ocidental e cobraram mais bombardeios para ajudá-los a ganhar terreno. Ontem, muitos comemoravam a intensificação dos ataques aéreos contra alvos do regime.
"A situação em Ajdabiya e Misrata, em particular, é desesperadora para os líbios, que estão sendo brutalmente alvejados por Kadafi", disse o tenente-coronel Charles Bouchard, que integra o comando das operações da Otan na Líbia.
No sábado, forças de Kadafi surpreenderam os rebeldes que pensavam ter assegurado o controle sobre Ajdabiya. Atiradores leais a Trípoli conseguiram se infiltrar na cidade. Em seguida, o intenso fogo de artilharia obrigou rebeldes a recuar.
Líderes opositores voltaram a denunciar o uso de mercenários recrutados em países vizinhos.
Hazim Ahmed, que tentou conter a ofensiva em Adjabiya, mostrou ao repórter da agência Reuters na cidade uma trilha de sangue em uma escola primária. "Um dos atiradores, um argelino, estava agachado aqui no canto, quando o cercamos. Ele disparou contra o próprio pescoço", disse o combatente rebelde.
No hospital da região, rebeldes mostravam o corpo de um "mercenário vindo da Argélia" - não estava claro se era o atirador da escola - aos gritos de "cão argelino"
Parte dos ataques da Otan tinha por objetivo romper as linhas de suprimento das forças do regime. O terreno desértico e extenso, com poucas estradas, torna os soldados de Trípoli que seguem para o front de Adjabiya especialmente vulneráveis.
"Estamos atacando as instalações logísticas do regime, assim como suas armas pesadas", disse Bouchard.