InfoRel
O governo peruano decidiu cobrar dos organismos internacionais multilaterais, regras mais rigorosas para a concessão de créditos e apoio financeiro aos países que gastam com a compra de armas.
A opinião é do presidente Alan García que abriu nesta segunda-feira em Lima, o seminário “Paz, Segurança e Desenvolvimento na América Latina”, patrocinado pelo ministério de Relações Exteriores do país.
Atualmente, o Peru preside o Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS), da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) onde defende a adoção de critérios transparentes sobre os gastos em defesa dos países membros.
De acordo com Alan García, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), deveriam aplicar um mecanismo semelhante de condições aos países que desejam créditos para armar-se.
Segundo ele, “não podemos ficar em silêncio sem reclamar às instituições multilaterais que comecem a pensar e a exigir condições de respeito à paz e ao armamentismo, antes de conceder créditos que de uma ou outra maneira alimentam e resultam em corridas armamentistas”.
Na sua avaliação, parte dos recursos obtidos pelos países junto aos organismos financeiros internacionais são utilizados na compra de armas.
“As instituições multilaterais deveriam impor como condição, saber o que cada país faz em termos de armamentismo, porque do contrário, um dinheiro que foi emprestado para a construção de uma ponte acaba sendo usado na compra de um submarino atômico e isso é um absurdo”.
Para Garcia, as redes sociais também deveriam ser usadas na defesa dos conceitos de paz, segurança e desenvolvimento.
Ele lembrou que a eleição do presidente norte-americano Barack Obama se deve em grande parte as redes sociais que mobilizaram milhares de jovens e que hoje, também os jovens reclamam liberdade e tolerância religiosa no mundo árabe.
Análise da Notícia
Marcelo Rech
O Brasil ainda não sabe a que ritmo os programas militares evoluíram depois que R$ 4 bilhões foram cortados do orçamento da Defesa.
Na Colômbia há apreensão com a possível redução dos recursos norte-americanos repassados à luta contra o narcotráfico e às guerrilhas.
A Bolívia aposta numa parceria com a Rússia para adquirir aviões e helicópteros e recentemente, reabriu quatro quartéis na fronteira com o Paraguai.
Também recebeu da China quase US$ 3 milhões em equipamentos bélicos.
Preocupado, o governo do Peru quer implementar no âmbito da UNASUL, os mecanismos de transparência de gastos militares.
Ao tratar do assunto num evento realizado pelo ministério de Relações Exteriores, o Peru busca o reconhecimento internacional à sua política exterior voltada à paz e ao desarmamento.
Nos últimos cinco anos, os gastos com a compra de armas cresceram 150%. Em 2009, foram aplicados US$ 51,8 bilhões em armas, segundo o Instituto Internacional para a Paz, de Estocolmo.
As ameaças à paz regional não são convencionais e não há cenário algum que se cogite a possibilidade de um conflito entre países na América do Sul, o que em parte não justifica tais gastos.
A região está ameaçada por bandas criminais de jovens, o crime organizado, o narcotráfico e as guerrilhas que atuam na Colômbia e parecem voltar no próprio Peru.
Para se combater esses problemas, os países não necessitam tanques, caças ou submarinos nucleares.
Por outro lado, os índices de pobreza na região continuam alarmantes.
Segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), 32,1% dos latino-americanos são pobres e 12,9% vivem em condições de indigência.
Em toda a região, são 180 milhões de pobres.
O pior é que nem mesmo as crises financeiras de 2008 e 2009 desestimularam os gastos em navios, tanques, helicópteros e sofisticados aviões de combate.
Desde dezembro de 2010, o Peru defende a homologação dos gastos militares regionais.
A medida pretende gerar confiança mútua, embora os países não tenham condições de adotar um teto para o gasto militar.
O que se quer é transparentar esse gasto para que cada membro da UNASUL saiba o que os demais investem em defesa.
Neste sentido, o Peru já possui acordos bilaterais com Chile e Equador.
A região espera agora que o Brasil sob a administração Dilma Rousseff coloque a erradicação da pobreza no topo das prioridades e que os gastos militares sejam postergados.