Interpretação da Resolução 1.973 é a de que civis não estarão seguros enquanto ditador líbio estiver no poder; distribuição de armas deve atrair mais críticas de países como China e Rússia, que condenam os bombardeios atualmente sob o comando da Otan
Andrei Netto - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / PARIS
Chanceleres de mais de 40 países, reunidos ontem, em Londres, discutiram formas de armar os rebeldes líbios para que eles possam derrubar o regime de Muamar Kadafi - agora, um dos objetivos declarados da coalizão. A discussão, que ainda está sendo travada nos bastidores, foi admitida por representantes dos Estados Unidos e da França, dois países líderes da operação militar iniciada no dia 19. Segundo americanos e franceses, os insurgentes provavelmente não conseguirão derrubar o ditador líbio por conta própria.
As discussões sobre o envio de armas aos rebeldes não constaram do comunicado final da reunião de chanceleres, mas foram a iniciativa mais importante do dia em Londres. A possibilidade foi levantada pela primeira vez pela embaixadora americana nas Nações Unidas, Susan Rice, que afirmou em entrevista à rede de TV ABC que os objetivos dos EUA são "comprimir os recursos de Kadafi cortando seu dinheiro, seus mercenários e suas armas, e fornecer assistência aos rebeldes e à oposição".
A revelação repercutiu à tarde em Londres. À imprensa, o chanceler britânico, William Hague, desconversou, afirmando que o fornecimento de armas aos rebeldes não esteve na pauta do evento "e não é parte de nenhum acordo hoje". Mas o chanceler francês, Alain Juppé, não fugiu da polêmica.
Segundo ele, a coalizão, por enquanto, se atém à aplicação da Resolução 1.973 da ONU, mas está aberta à questão. "Estamos prontos para discutir isso com nossos parceiros", disse, justificando a iniciativa com uma sentença: "Kadafi não tem futuro na Líbia". No início da noite, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, confirmou que o debate está em curso, reiterando que o eventual fornecimento de armas seria legal. A resolução que permitiu a intervenção na Líbia autoriza o uso de "todos os meios necessários" para evitar que Kadafi massacre a população civil. A interpretação dos membros da coalizão é a de que os civis não estarão seguros enquanto o ditador permanecer no poder.
Divergências. A proposta deve abrir um novo foco de críticas internacionais às operações da coalizão. China e Rússia denunciam os bombardeios, agora liderados pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Segundo o chanceler russo, Serguei Lavrov, os bombardeios contra instalações e comboios militares líbios vão além da criação de uma zona de exclusão aérea e são ilegais, pois buscam possibilitar o avanço das tropas rebeldes para Trípoli. Ontem, Fredrik Reinfeldt, primeiro-ministro da Suécia - país que participa da coalizão com oito aviões -, também levantou suspeitas de abuso ao afirmar ao seu Parlamento que a missão sueca não irá além do respeito da zona de exclusão aérea.
Também chamou atenção em Londres a pouca presença de representantes da Liga Árabe, organização que pedia a intervenção internacional na Líbia. De seus 24 países-membros, apenas 7 compareceram. Países como Egito e Argélia nem sequer enviaram representantes. Entre os participantes, houve pelo menos dois importantes consensos: Kadafi deve deixar o poder e novas sanções internacionais precisam ser adotadas com urgência. Além disso, os chanceleres anunciaram a criação de um "grupo de contato", que incluirá representantes da coalizão, para trabalhar na coordenação política com a ONU, a União Africana, a União Europeia, a Liga Árabe e o Conselho Nacional de Transição (CNT).
Carta dos rebeldes
Rebeldes líbios apresentaram em Londres compromisso de convocar eleições no "pós-Kadafi".
DESACORDO
França e Catar
Está disposta a discutir ajuda militar aos rebeldes. País árabe sugeriu a venda de armamento e se ofereceu para ajudar rebeldes a vender o petróleo líbio
EUA e Grã-Bretanha
A possibilidade de armar opositores está em aberto Suécia, Rússia e China Criticam o desrespeito à resolução da ONU, mas Estocolmo participará das operações
Países Árabes
Liga Árabe, que pediu a intervenção militar à ONU, está rachada. Ontem, apenas 7 países, dos 24 membros, foram representados em Londres. Catar e Emirados Árabes integram coalizão.
Coalizão internacional estuda armar rebeldes para ajudá-los a depor Kadafi
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