Muito embora mantenha a agenda cheia para as próximas semanas, o ministro Nelson Jobim está contrariado no governo. Desde antes da posse da presidente Dilma Rousseff, o ministro acumula reveses dentro do governo, entre os quais o mais sério é a revisão do processo de compra dos caças da Força Aérea Brasileira (FAB), determinada pela presidente.
Raymundo Costa | Valor
Além da revisão da compra dos caças, o ministro sente-se desconfortável com o noticiário sobre decisões com as quais concorda, mas que são transmitidas como se fossem derrotas do Ministério da Defesa. Este é o caso, por exemplo, da retirada da aviação civil da órbita do Ministério da Defesa, com a qual concorda, mas sobre a qual gostaria de ter participação mais efetiva.
Entre os amigos do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) na área jurídica informa-se que Jobim pensou, inclusive, em abreviar sua permanência no governo. Ele pretendia ficar no máximo dois anos, tempo que julga necessário para consolidar o comando civil na Defesa e implementar a Estratégia Nacional de Defesa. Agora, analisaria a hipótese de sair neste semestre.
Fontes ligadas à Defesa disseram ao Valor, no entanto, que o ministro mantém o projeto original. Ontem, Jobim estava na Amazônia, no fim de semana vai à Argentina e há poucos dias teve reunião com o ministro Antonio Patriota (Relações Exteriores) para definir a agenda internacional da Defesa. Também está confirmada a posse, no fim de fevereiro, do ex-deputado José Genoino (PT-SP) na principal assessoria civil do Ministério da Defesa.
Com relação aos caças, essas fontes afirmam que houve apenas "um adiamento" da decisão. A compra de navios de superfície para a Marinha nem mesmo teria sido adiada, porque o processo ainda se encontra em fase de consultas com os fornecedores. Mas, ao mesmo tempo que aceita que o momento não é politicamente favorável ao anúncio de compra de armamentos, é certo que Jobim não concorda com o adiamento dos projetos sob o pretexto de ajuste fiscal: a compra dos caças terá financiamento internacional e o Brasil somente terá de fazer desembolsos a partir do fim de 2012.
A relação de Jobim com o Palácio do Planalto mudou com a posse de Dilma. A presidente demorou a receber o ministro em audiência, e quando decidiu revisar a compra de um lote de 36 caças para a FAB, ela pediu para o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) ler o relatório preparado pelo Ministério da Defesa. Ficou patente que a presidente pensava rever o processo e ouvir novamente todos os envolvidos - como é do seu estilo.
A compra dos caças da FAB é um processo iniciado no primeiro mandato do governo tucano de Fernando Henrique Cardoso. A FAB sempre se manifestou favorável à aquisição do caça da fábrica sueca Saab, o Gripen, mas no governo de Luiz Inácio Lula da Silva o negócio evoluiu para uma parceria estratégica com a França. O então presidente, no 7 de Setembro de 2009, chegou a dizer que o caça francês Rafale seria o escolhido, embora fosse bem mais caro que os demais concorrentes (além do Gripen, o F-18 americano).
Na troca de governo, os americanos da Boeing (fabricante do F-18, o Super Hornet), que antes estavam isolados, conseguiram estabelecer bons contatos com o Palácio do Planalto e melhoraram sua proposta, que agora inclui a manufatura de peças da fuselagem de todos os F-18 negociados no mundo em uma fábrica no Brasil. Jobim, segundo interlocutores do ministro, é contrário ao reinício de todo o processo licitatório.
Jobim não tem com Dilma o mesmo relacionamento que tinha com Lula, mas ganhou a simpatia dos petistas ao levar o ex-deputado José Genoino para o Ministério da Defesa. Genoino será importante para fazer a interface do ministério com o Congresso, sobretudo quando a questão da tortura e dos desaparecidos entrar na agenda dos congressistas, com a instalação da Comissão da Verdade. O PMDB, partido do ministro, entregou Jobim à própria sorte. Mas se ele sair, vai dizer que o partido perdeu um ministério e quer ser compensado com outra Pasta.