DA REUTERS, EM BRASÍLIA
DA EFE, EM PARIS
DA EFE, EM PARIS
A presidente Dilma Rousseff decidiu adiar a escolha do fornecedor de jatos de combate da Força Aérea e vai reavaliar todas as ofertas finalistas para buscar novas garantias e acertar questões sensíveis como transferência de tecnologia, disseram fontes com conhecimento da decisão.
A decisão marca uma reviravolta no processo, uma vez que o antecessor de Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva, repetidamente expressou preferência pela oferta da francesa Dassault e seus jatos Rafale. Mas Lula deixou o governo sem tomar uma decisão, deixando-a a cargo de Dilma.
A presidente decidiu reiniciar o processo de avaliação das aeronaves e a esta altura não tem preferência por qualquer fornecedor, disse uma fonte do governo.
"É a decisão dela agora... e ela quer olhar os detalhes cuidadosamente", afirmou a fonte, que pediu para não ser identificada.
Os outros finalistas da licitação, avaliada em pelo menos US$ 4 bilhões, são o caça Gripen NG, da sueca Saab, e o F-18 Super Hornet, da norte-americana Boeing.
Na semana passada, Dilma pediu pessoalmente a senadores norte-americanos por garantias adicionais do Congresso dos Estados Unidos para transferência tecnologia na proposta da Boeing, disseram fontes com conhecimento das conversas.
O acordo é o centro dos esforços do Brasil para ampliar a capacidade de defesa no momento em que a importância internacional do país cresce junto com a economia. O governo também exige generosas transferências de tecnologia patenteada para incentivar a indústria de defesa nacional.
Cada oferta tem seus pontos fortes e fracos. A da Dassault garante boas transferências de tecnologia, mas carrega um preço alto, segundo autoridades.
A Saab pode ser prejudicada pela percepção de que a Suécia ofereceria uma relação estratégica menos prestigiosa do que a França e os Estados Unidos. Entretanto, há dúvidas sobre a transferência de tecnologia na proposta da Boeing.
Também pesam as considerações políticas. A relação do Brasil com os EUA piorou nos últimos anos do governo Lula, mas Dilma mostrou sinais claros de vontade de melhorar os laços bilaterais. Porém, Lula tinha uma ligação forte com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e assinou um acordo estratégico de defesa com a França.
Na última segunda-feira, Dilma perguntou ao senador norte-americano John McCain -- membro do Comitê de Serviços Armados do Senado, que tem jurisdição sobre assuntos aeronáuticos -- e ao colega republicano John Barrasso se o Congresso dos EUA poderia dar uma garantia adicional e formal de transferências de tecnologia na oferta da Boeing.
"Eu pretendo voltar [a Washington] e garantir que fique muito claro -- que tanto o presidente dos Estados Unidos e o Congresso dos Estados Unidos deixem claro -- que haverá uma transferência completa de tecnologia se o governo do Brasil decidir adquirir o F-18", declarou McCain depois de reunir-se com Dilma.
A Boeing e autoridades norte-americanas, como o secretário de Defesa Robert Gates, já deram garantias de transferência de tecnologia, mas Dilma pode estar buscando termos mais generosos -- ou promessas adicionais que possam ajudar a aliviar receios de alguns membros das Forças Armadas e do Ministério de Defesa, muitos dos quais são favoráveis à oferta francesa.
MUITO EM JOGO
Não está claro como acontecerá a avaliação das ofertas por Dilma, disse uma fonte de alto escalão do governo. Ela pode decidir revisar as ofertas atuais ao invés de exigir uma reelaboração total da parte técnica das propostas, o que poderia levar anos.
Procurado no domingo, um porta-voz do gabinete presidencial não quis comentar o assunto.
A demora prolonga um processo que começou há quase uma década, sob o governo Fernando Henrique Cardoso.
As ofertas só parecem crescer com o tempo. O contrato deve valer muito mais que o proposto inicialmente, na faixa de 4 bilhões a 6 bilhões de dólares. Os contratos de manutenção serão lucrativos, e o Brasil pode acabar comprando mais de 100 aeronaves.
Fontes do Ministério de Defesa francês disseram à Reuters que ouviram indicações preliminares de que haveria uma reforma do processo de negociações no governo de Dilma.
Conseguir a venda é especialmente importante para a Dassault, pois seria a primeira encomenda de exportação dos caças Rafale. A companhia familiar está há anos sob pressão, buscando repetir o sucesso da geração anterior de aviões militares Mirage.
Em 4 de janeiro, o ministro de Defesa francês, Alain Juppe, disse que as negociações com o Brasil estão "no caminho certo".
Um fator que pode favorecer a Boeing é a mudança nos vínculos do Brasil com os EUA. A relação de Lula com o Irã e sua tentativa mal sucedida de mediar uma disputa internacional sobre o programa nuclear iraniano resultaram em um esfriamento dos laços entre Brasília e Washington que chegaram a afetar o comércio.
Contudo, assessores dizem que Dilma pretende melhorar as relações com Washington, que ela vê como um aliado comercial em um momento de incerteza financeira mundial e de atritos crescentes sobre as políticas comerciais da China.
FRANÇA
A ministra de Economia francesa, Christine Lagarde, se mostrou esperançosa de que a presidente Dilma levará em conta o trabalho realizado no contrato de venda de aviões caça Rafale ao Exército brasileiro durante a revisão do processo de compra das aeronaves.
"Um enorme trabalho foi feito anteriormente. Espero que os frutos destes esforços sejam levados em conta pela nova presidente", afirmou a ministra à rádio "Europe 1".
Lagarde assinalou que a França já consentiu em firmar importantes compromissos no que se refere à transferência de tecnologia ao Brasil, ponto mencionado pela presidente como condição para voltar a examinar os contratos.