Como a Grécia trocou os BMP-3 novos por Bradley velhos (e não estranhe se sentir um déjà vu)

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Fábio Artemian Stepanopoulos - ASAS

Uma delegação grega, composta por oficiais de alta patente, realizou uma visita, no primeiro semestre deste ano, a um "depósito" de veículos blindados no Novo México (EUA). Seria um episódio banal se não se inserisse numa manobra norte-americana para bloquear o fornecimento para a Grécia, pela Rússia, de 450 blindados de transporte de infantaria BMP-3, num negócio de 1,2 bilhão de euros, anteriormente definido pelo governo grego, que passou a ser do Partido do Movimento Socialista Pan-Helênico (Pasok), este, de início, atestou que haveria total continuidade, informando Moscou, especificamente, de que o programa  dos blindados seria mantido. Entretanto, em maçro deste ano, a situação mudou "em 180º", logo após a visita do primeiro-ministro grego, George Papanderou, aos EUA - quando aceitou a oferta norte-americana de um lote de segunda mão de blindados Bradley, por um valor simbólico. À primeira vista, a oferta de Washington era boa demais para poder ser ignorada e, no retorno de Papandreou, o governo grego emitiu solicitação ao seu Ministério da Defesa para examiná-la, o que foi seguido do envio, em sigilo, da delegação militar grega ao depósito no Novo México.

Porém, ao mesmo tempo em que a imprensa grega recebia informações "vazadas" sobre a compra dos BMP-3 russos, a delegação militar retornava do Novo México com um relatório favorável aos Bradley usados, embora um rumor vindo do próprio Alto-Comando do Exército grego atestasse que o interesse era "apenas" pela versão anfíbia do blindado norte-americano (!). Mas não houve como ocultar o novo acordo e, na última semana de abril, a Chefia do Alto-Comando elogiou abertamente o Bradley numa reunião no Ministério da Defesa, às vésperas da viagem a Moscou do próprio ministro da Defesa grego, Evangelos Venizelos.

Na Rússia, Venizelos pediu compreensão e, apelando à crise econômica mundial, solicitou que as negociações sobre os BMP-3 fossem retomadas "do zero". Sensível à claudicante situação econômica grega, o governo russo aceitou e colocou-se à disposição para uma nova proposta de Venizelos que, segundo este, seria oficializada em 15 dias. Passaram-se dias e semanas, porém, e nada chegou ao Kremlin. Cerca de um mês depois, no início de maio, sabendo claramente da proposta norte-americana dos Bradley usados, o governo russo despachou um enviado especial até o Pentágono, onde este buscou contato imediato com o embaixador grego, Chronopoulos, que ali estava. Dessa reunião, o diplomata grego descreveria, mais tarde, em nota oficial, que disse explicitamente ao enviado russo que "a Grécia não sente necessidade de dar mais qualquer passo em 'boa vontade' para com a Rússia".


Então, passou a circular no Estado-Maior das Forças Armadas da Grécia um relatório sobre os Bradley de segunda mão norte-americanos. Curiosamente, tal documento não identifica os veículos a serem adquiridos, nem o histórico do blindado (cujo projeto inicial beirou o completo fracasso) e, obviamente, não cita que o modelo foi criado no final dos anos 70 exatamente para contrabalançar os blindados da família BMP, então da União Soviética. Estes, surgidos logo após o fim da 2ª Guerra Mundial, fruto da experiência direta do Exército Vermelho em sua luta contra a Alemanha, combinaram as capacidades de transporte protegido de infantaria dos chamados Armoured Personnel Carrier (APC) com um armamento pesado digno de um "caça-tanques". Tal conceito revolucionário é, hoje, conhecido com Infantry Fightning Vehicle (IFV) e, o primeiro modelo deste tipo no mundo foi, exatamente, o BMP-1, que entrou em serviço em 1966. Os EUA só viriam a ter algo similar 15 anos depois, exatamente com o Bradley. Mas os gregos não se preocuparam com história...



E,  bem, nós falamos que "à primeira vista, a oferta de Washington era boa demais para poder ser ignorada", certo!? Ocorre, entretanto, que desde os anos 50, até para evitar os custos da destruição de seu equipamento desativado, os EUA possuem uma ação ativa junto a países "amigos" de cessão gratuita de equipamentos militares, como blindados e aeronaves, por meio do princípio de as it is/where it is (do jeito que está/onde está). Entretanto, hoje o apoio norte-americano segue os princípios do "livre mercado" e, assim, a venda "gratuita" dos Bradley usados para a Grécia ficou ao custo de revisão e reequipagem/modernização de sistemas e eletrônica, o custo unitário simplesmente dobra, chegando a US$ 3 milhões, ou seja, um Bradley usado custando, então, praticamente o valor de um BMP-3 novo!

Um grande negócio...

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