Fernando Eichenberg, correspondente - O Globo
WASHINGTON - O estudo elaborado pelo Pentágono sobre a norma "Don't ask, don't tell" (não pergunte, não conte) - que discrimina o serviço de gays e lésbicas nas Forças Armadas dos Estados Unidos - concluiu que sua revogação implicaria em riscos mínimos e isolados nas guerras em curso no Iraque e no Afeganistão.
Numa pesquisa feita com militares da ativa e da reserva, mais de 70% deles opinaram que a alteração da regra atualmente em vigor teria resultados "positivos, ambíguos ou nulos" nas operações das Forças Armadas.
Segundo os entrevistados, as objeções de militares heterossexuais com a convivência com colegas gays ou lésbicas seriam insignificantes, e questões específicas sobre o uso conjunto de dormitórios ou de chuveiros deveriam ser analisadas caso a caso.
A enquete do Pentágono abrangeu cerca de 400 mil soldados e 150 mil casais de militares. O relatório de 370 páginas - vazado ontem pelo jornal "The Washington Post" - prevê também que poucos militares declarariam abertamente sua homossexualidade caso a lei seja revogada.
Instituída em 1993 no governo de Bill Clinton, a política do "Don't ask, don't tell" determina que homossexuais e bissexuais que revelarem sua orientação sexual devem ser expulsos do serviço militar. Considerada como uma "política de avestruz" - em tese, os homossexuais são admitidos desde que não assumam publicamente sua homossexualidade - e um estímulo à homofobia, a anulação da lei foi uma constante promessa de campanha do presidente Barack Obama.
Segundo o "Post", o Pentágono pediu a pesquisa para lidar com áreas onde uma recusa poderia causar conflitos ou prejudicar a capacidade de combate.
Ontem, o governo americano solicitou à Suprema Corte que não intervenha para exigir que o Pentágono aceite de imediato o serviço de homossexuais assumidos nas Forças Armadas. O grupo de defesa de direitos dos gays Log Cabin Republicans (LCR), que havia contestado na Justiça a política militar, obtivera uma liminar, depois suspensa por um tribunal de recursos, e então recorreu à Suprema Corte.
O secretário de Defesa americano, Robert Gates, defendeu repetidas vezes a necessidade de que a mudança nas regras seja feita com "extremo cuidado", e que o processo siga o calendário previamente estabelecido, ou seja, a entrega do relatório do Pentágono ao presidente dos Estados Unidos, em 1 de dezembro, e a posterior apreciação pelo Congresso.
O governo americano pretende incluir a votação da revogação da lei na pauta do Congresso até o final do ano, antes que a nova maioria republicana na Câmara dos Representantes assuma o controle da agenda parlamentar, no dia 1 de janeiro.
Ainda assim, serão necessários votos republicanos para que a alteração seja aprovada. Segundo o instituto Centro para o Progresso Americano, pelo menos dez senadores de ambos os partidos, democrata e republicano, vão esperar para tomar uma decisão após a leitura do relatório do Pentágono.