DefesaNet acompanhou durante oito dias (e bem de perto) o exercício realizado pelos Fuzileiros Navais em Formosa, a 70 km de Brasília.
DefesaNet
Só a distância envolvida entre a cidade do Rio de Janeiro e a base de Formosa (mais de 1.200km) faria desanimar os mais céticos. Mas para 2.200 soldados e 165 viaturas operativas, entre blindados, tanques, caminhões e viaturas leves, além de artilharia, apoio logístico, defesa antiaérea (sem falar nas cegonheiras e dezenas de ônibus fretados), percorrer tamanha distância para combater faz parte do trabalho de uma força expedicionária de pronto emprego como o são os Fuzileiros Navais.
No cenário proposto, os FN deveriam conquistar uma CP (cabeça de praia) e mantê-la, visando permitir o desembarque administrativo (sem oposição inimiga) de uma divisão de exército (4ªDE) enviada para ocupar a área de fronteira de dois países vizinhos em conflito, tudo devido à descoberta de petróleo. Com a ameaça a segurança humanitária do “continente aquarela” gerando levas de refugiados, além de fome e doenças, a ONU decide intervir constituindo uma força de paz.
Toda a parte “embarcada” da operação aconteceu de forma simulada. Na verdade, o que se treinou em Formosa foi à intricada cadeia de eventos e empregos de meios necessários para que a “Força que vem do Mar” combata em solo, após sair das praias. Contando com apoio aéreo de caças AF-1 e AF-1B do Esquadrão VF-1 e helicópteros AS-332 Super Puma do Esquadrão HU-2, ambos da Aviação Naval, os Fuzileiros Navais lançaram mão de todo o seu armamento e meios combativos, num veloz avanço pelo principal ponto de acesso terrestre da região, visando à rápida consolidação da cabeça de praia e a destruição do inimigo.
Armamentos e Capacidades
Além do fuzil padrão de um Fuzileiro Naval (M-16A2 5,56 mm), todas as armas da corporação foram disparadas em Formosa, primeiro de forma independente, e depois em conjunto, de forma integrada. O Batalhão de Blindados de Fuzileiros Navais alinhou os caça tanques SK-105A2S, os modernos blindados sobre rodas 8x8 MOWAG Piranha, os tanques anfíbios de transporte de tropas CLANF e os veteranos M-113, que serão modernizados em breve.
Na Defesa Aérea e Artilharia Antiaérea atuaram o Esquadrão VF-1 e seus A-4, mísseis terra-ar MANPADS Mistral, baterias antiaéreas Bofors L70 40 mm (dotadas de radares diretores de tiro) e reparos com metralhadoras de 12,7 mm. Para a defesa antitanque foram empregados mísseis anticarro RBS 56 Bill e AT-4, o fogo de artilharia sendo provido por obuseiros 105 mm Light Gun e morteiros 81 mm. No fogo de apoio, foram empregadas metralhadoras .50 e MAG 7,62 mm, além da Mini-Para em calibre 5,56 mm.
Começa o combate. Os caças A-4 treinam a missão GIA (Guia Aéreo), sendo orientados em seus ataques através de links de comunicação solo com frações OpEsp do Batalhão Toneleros previamente infiltradas em território inimigo pelos Super Puma do Esq. HU-2. Logo que os caças deixam a área, chega à vez de a artilharia lançar seu aço sobre o terreno. Obuseiros Light Gun de 105 mm, dispostos em baterias por um linha com 10 km de profundidade disparam intensa barragem de fogos utilizando munições do tipo “base bleed”.
Neste momento, colunas mecanizadas lideradas pelos SK-105 irrompem pelos flancos da formação inimiga, sua ação de choque abrindo caminho para o desembarque da infantaria de fuzileiros navais. Com uma velocidade impressionante, os M-113, CLANF e Piranha lançam os soldados no terreno, isso após maciço fogo de armas automáticas, artilharia e mesmo fogo de mísseis anticarro do tipo RBS 56 Bill e AT-4, ambos de fabricação sueca.
No ar, VANTs leves do tipo Caracará fazem o reconhecimento próximo, localizando posições inimigas e retransmitindo as imagens em tempo real. Ameaças inimigas como dispositivos explosivos improvisados (IED) são neutralizadas pela Engenharia de Combate. As baterias de Bofors 40 mm atiram em alvos rebocados por aeromodelos, sendo que um deles, do tipo Eclipse (fornecido pelo 11ºGAAAe-EB) e dotado de flare (sinal luminoso infravermelho) é abatido por um certeiro disparo de míssil terra-ar MANPADS Mistral. O ataque se revela bem sucedido, causando grandes danos e muitas baixas ao inimigo. Um detalhe, todo o exercício foi realizado com o emprego de munição real, para máximo realismo no treinamento.
2ª Esquadra e Fuzileiros Navais no Líbano
Após o encerramento do exercício, coletiva de imprensa realizada na base de Formosa reuniu jornalistas e os Almirantes Jorge Mendes (Cmte da Tropa de Reforço), Leitão (Cmte da força de Fuzileiros da Esquadra) e Carrara (Cmte do 7º Distrito Naval). Dentre os temas abordados, a desativação de minas da 2ª Guerra Mundial encontradas recentemente no litoral nordestino dividiu as atenções com o planejamento da Marinha do Brasil para a implementação da 2ª Esquadra, prevista para ser baseada em um porto da região nordeste do país, de acordo com o Plano Nacional de Defesa.
Foi anunciada pela Marinha, mas ainda dependendo de confirmação pelo Governo Federal, da criação e envio de uma Força de Paz nucleada em efetivos do Corpo de Fuzileiros Navais para o Líbano, possivelmente no 2º trimestre de 2011. Segundo os almirantes, o exercício em Formosa foi aproveitado para começar a preparo das tropas, veículos e logística de campo necessária para atuarem em terreno tão distante e com linhas de abastecimento muito extensas, o que deverá dificultar sobremaneira o cumprimento desta empreitada. Algo comum para uma tropa tão aguerrida como o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, “A Força que vem do Mar”.
AD SUMUS!
Roberto Caiafa
Roberto Caiafa