Wikileaks ameaça divulgar hoje 400 mil documentos sobre a guerra
O Globo
WASHINGTON. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos mobilizou mais de 120 profissionais para analisar cerca de 400 mil documentos secretos sobre a Guerra do Iraque que a ONG Wikileaks ameaça publicar hoje em seu portal na internet. O porta-voz do Pentágono, coronel David Lapan, classificou a divulgação como "altamente prejudicial para as operações ainda em curso, para as fontes e os métodos empregados" pelas forças americanas no Iraque.
Lapan pediu à Wikileaks que devolva os documentos para "seus legítimos donos" - o Exército americano. O porta-voz do Pentágono disse que os textos podem conter dados estratégicos sobre a infraestrutura iraquiana, além de informações sobre ataques contra as tropas da coalizão e as forças de segurança iraquianas.
Os 400 mil documentos sobre a Guerra do Iraque em poder do Wikileaks abrangem o período que vai de 2004 a 2009, e há vários temas controversos na documentação. Um deles são os relatórios sobre ataques de rebeldes, que inicialmente usavam explosivos simples e que mais tarde foram acusados de lançar ataques com "bombas de fabricação iraniana".
Outro tema explosivo são os documentos que se referem à prisão de Abu Ghraib - onde ocorreram torturas de iraquianos denunciadas por fotos vazadas na internet - e a pelo menos mais uma prisão onde houve denúncias de torturas, conhecida como Camp Nama.
Há ainda acusações de entidades de direitos humanos de que teria havido uma "limpeza étnica" em Bagdá no rastro dos intensos conflitos entre esquadrões de morte xiitas e grupos de sunitas rebeldes. Mais de um milhão de iraquianos perderam suas casas e foram transferidos para outras áreas da cidade entre março de 2006 e julho de 2007. E os soldados americanos foram acusados de assistir aos conflitos sem intervir nas matanças, permitindo que houvesse o que se chamou de "limpeza étnica" de áreas de Bagdá.
Documentação denunciaria "crimes colaterais"
E, por fim, os documentos vão permitir investigações sobre os bombardeios americanos da operação "Shock and Awe", para saber se houve uso de quantidades excessivas de bombas para atingir alvos, de modo a que se poderia falar em "crimes colaterais" de guerra, com elevado número de vítimas entre civis. O debate em torno dos "crimes colaterais" surgiu a partir de um vídeo divulgado pela Wikileaks em abril, mostrando a morte de um fotógrafo da agência Reuters, atingido por tiros disparados por um helicóptero americano.
O portal Wikileaks tornou-se conhecido do grande público quando publicou, em julho passado, um pacote com 77 mil documentos secretos e detalhados sobre a guerra do Afeganistão, provocando a fúria do Pentágono. Outros 15 mil documentos sobre o Afeganistão surgiriam em seguida, tendo sido a divulgação considerada então o maior vazamento de documentos da história militar americana.
Desde setembro, porém, o portal tem tido problemas para manter-se no ar. Julian Assange, cidadão australiano e fundador do portal, anunciou que o financiamento do grupo foi bloqueado, como consequência de "guerra financeira lançada pelo governo americano".
A Moneybrookers, empresa responsável pela coleta de doações da Wikileaks na internet, notificou, por email, os responsáveis pelo portal de que a sua conta tinha sido fechada por ter sido incluída nas listas de alertas dos governos americano e australiano.
Em julho, o Pentágono manifestou publicamente seu descontentamento com a Wikileaks e exigiu a "devolução imediata dos documentos militares". Agora, prepara-se para enfrentar novo vazamento, de dimensões bem maiores.