Poder Aéreo
Londres vai decidir, em setembro, onde o machado irá atuar na Defesa, área que mais gasta na Europa e que está sob pressão cada vez maior. Graves cortes e atrasos são inevitáveis, caso os governos decidam apertar os cintos.
Liam Fox, o secretário de Estado britânico para a Defesa, utilizou os palanques do show aéreo de Farnborough para reiterar que não há, para o setor de Defesa do Reino Unido, para o Ministério, as Forças Armadas e Indústria outra alternativa senão implementar mudanças.
Fox, em uma palestra, disse à platéia de industriais da área de defesa que “o programa atual de defesa é completamente inviável, especialmente se tentarmos fazer o que precisamos fazer no futuro e, ao mesmo tempo, continuarmos os programas que iniciamos no passado.”
Berlim e Paris estão enfrentando desafios orçamentários semelhantes, estando seus planos de gastos atualmente em revisão. Os programas pan-europeus atingidos pela crise incluem o Airbus Military A400M, cujas negociações contratuais deverão se arrastar até o quarto trimestre.
Londres planeja tornar públicos os resultados da sua revisão da Estratégia de Defesa e Segurança (“Strategic Defense and Security Review – SDSR”) no final de outubro. O resultado das deliberações em todas as três capitais europeias terá ramificações de longo alcance para a defesa do Continente e para a indústria aeroespacial.
Fox está requerendo que o Governo renove também a Estratégia Industrial de Defesa (“Defence Industrial Strategy – DIS”) após concluir sua revisão estratégica. Ele diz que um documento de consulta sobre a estratégia deve ser publicado ainda este ano, com a DIS sendo completamente revista, em sequência, no outono de 2011.
A estratégia industrial foi lançada em dez 2005, com expectativas de que seria atualizada em 2007/2008. Nos últimos 24 meses, como a necessidade de uma revisão da Defesa do Reino Unido tornou-se cada vez mais clara, qualquer modificação da DIS faria sentido apenas após a revisão da estratégia de Defesa. A Indústria, porém, quer ver os dois documentos publicados, se possível, ao mesmo tempo.
Ian King, diretor executivo da BAE Systems e presidente do Conselho da Indústria de Defesa, diz que “uma nova DIS é fundamental.” Complementando o discurso de Fox, King disse que havia “necessidade de uma estratégia clara, coerente.”
Comentando sobre o esforço relativo à SDSR, Fox advertiu que, “sem contenção de custos nos programas atuais, não temos outra opção a não ser realizar cortes nos programas em curso ou reduzir o investimento em programas futuros.”
Embora o Governo não tenha identificado programas específicos como vulneráveis, Fox destacou que “temos de reduzir o número de frotas diferentes que fornecem a mesma capacidade, porque não podemos nos dar ao luxo e suportar múltiplas cadeias de abastecimento, a formação da infraestrutura e os custos associados.”
Fox, na semana passada, usou o exemplo da frota de transporte aéreo da Royal Air Force, que, segundo os planos atuais, irá adicionar o A400M às aeronaves Boeing C-17 e Lockheed Martin C-130J já em serviço. No Parlamento, já foi sugerido que o C-130J poderia ser retirado de serviço com antecedência em relação à data prevista de 2030.
Um aspecto de discussão, no entanto, é saber se o A400M será capaz, devido ao seu tamanho, de cumprir requisitos das forças especiais ora atendidos pela frota de Hércules. Um número cada vez menor C-130K provê atualmente essa capacidade, que está em vias de ser transferida para parte da frota de C-130J.
Uma retirada de serviço antecipada para as frotas de Harrier GR9 e Tornado GR4 também está sendo considerada. O futuro em longo prazo das aeronaves Typhoon Tranche 1 da Força Aérea também pode ser analisado, dado que esta versão vai exigir uma modernização de “meia-vida” no final desta década.
A Alemanha também está estudando efetuar cortes no número de aeronaves e helicópteros, uma vez que luta com o seu orçamento de defesa. Políticos italianos, entretanto, indicaram que a Itália é a mais recente nação que está planejando abandonar a produção do Tranche 3B.
Apesar de que a SDSR possa ser um “bastão” na área financeira, Fox está oferecendo para a indústria uma “cenoura”, com o apoio do Governo na área da exportação. A parte governamental do acordo a ser alcançado, disse Fox, é que “o Governo britânico vai apoiar a Indústria de defesa do Reino Unido como um ativo estratégico; vamos apoiar o esforço de exportação com um programa ativo e inovador na diplomacia da defesa.”
Comentando sobre o A400M, Louis Gallois, CEO da EADS, disse que acredita que a indústria terá que esperar mais alguns meses antes de que um seja estabelecido um novo contrato para o Projeto.
Em março, os governos parceiros e representantes da Indústria chegaram a um acordo sobre o caminho a seguir relativo aos três anos de atraso e ao orçamento ultrapassado do Projeto, mas isso ainda não foi traduzido em ações concretas. A Airbus Military estava esperando que um novo contrato pudesse ser estabelecido em meados deste ano, mas isso não aconteceu.
Gallois não acredita que um contrato possa ser concluído antes do outono. As negociações continuam e, segundo ele, todos estão aderindo aos termos do acordo de março, embora advirta que isso pode mudar.
O ambiente orçamentário cada vez mais sombrio também está forçando as empresas a repensar estratégias. Por exemplo, a EADS deverá intensificar os esforços para globalizar, diz Stefan Zoller, CEO da Divisão de Segurança e Defesa daquela empresa.
Gallois sugere um prazo para a discussão, ressaltando que terão provavelmente 3 a 4 anos difíceis pela frente.
Não se sabe quão profundamente a crise do orçamento europeu vai afetar a EADS e os mercados de defesa em geral.
Os cortes no orçamento da defesa do Reino Unido podem chegar a 20%. A Alemanha está-se preparando para reduzir pelo menos 4 bilhões de Euros (US$ 5,1 bilhões) e a França prevê uma redução de 3 a 5 bilhões de Euros. A Espanha visa uma redução de mais de 6% nos gastos.
Mas Zoller observa que “é evidente que os mercados europeus vão diminuir ou ficar estáveis, na melhor das hipóteses.” Como resultado, “temos que ir onde está o dinheiro, e o dinheiro está em todo o Mundo”; diz ele, referindo-se à Índia, ao Brasil e ao Oriente Médio.
“Eles têm um grande mercado em desenvolvimento”. Para o seu negócio, Zoller diz que isto significa que “temos de ser mais globais e temos que fazer isso mais rápido do que havíamos imaginado”. “Para ser bem sucedida, a indústria deve-se concentrar na construção de acordos com empresas e países, para ajudá-los a fazer crescer as respectivas capacidades industriais”.
Zoller também espera que as empresas dos Estados Unidos passem a perseguir esses mercados de forma mais agressiva, uma vez que as despesas do Pentágono estão estacionando.
Quanto aos mercados europeus, Zoller diz que, em curto e médio prazo, serão turbulentos, na medida em que os orçamentos e as forças são reestruturados. No entanto, ele vê um resultado global positivo. “A reestruturação atual das forças irá, no longo prazo, apoiar o nosso negócio”, pois levará a clientes saudáveis.
No entanto, ele observa que “temos de gerenciar os efeitos imediatos, interinos.”
A Alemanha pode ter cortes significativos em suas forças armadas como, também, enfrenta problemas com orçamento.
Gallois sugere que o foco sobre os serviços poderá contribuir para atenuar as pressões orçamentais de curto prazo.
“Eu acho que podemos propor soluções inovadoras para permitir aos governos economizar dinheiro, mas, ao mesmo tempo, proporcionando a capacidade que precisamos.”
Enquanto isso, o Ministério da Defesa da França enfrentará um corte de curto prazo de 3,5 bilhões de Euros, durante os próximos três anos, para ajudar a reduzir o crescente déficit do país. Embora este corte seja inferior àquele de 5 bilhões de Euros inicialmente previsto, ele será orientado diretamente ao hardware. Além disso, um desempenho econômico inferior ao esperado poderá aumentar este montante mais tarde, alertam executivos do setor.
O consenso é de que pelo menos algumas compras de alto valor serão adiadas, e programas existentes terão prazos dilatados.
O ministro da Defesa francês, Herve Morin, disse a uma Assembléia Nacional de Defesa, em 7 de julho, que o programa para o reabastecedor multitarefa (MRTT); a modernização dos Mirage 2000D; a atualização do sistema de comando e controle aéreo (SCCOA); juntamente com a rede de satélites de inteligência de sinais CERES, estariam entre os programas suscetíveis de adiamento.
Todos esses sistemas são cobertos pelo plano plurianual de gastos de defesa 2008/2013 e pelo livro branco de defesa de 2007 no qual aquele se baseia.
Funcionários da Defesa insistem que o Ministério vai fazer todo o possível para preservar as prioridades do livro branco e informam que a decisão final não é esperada antes de setembro/outubro, quando a proposta de orçamento para o próximo ano deverá ser apresentada.
A Força Aérea Francesa diz que a modernização do Mirage 2000D, que se destina a fornecer à aeronave uma capacidade ar-ar e prolongar a sua vida para 2025, é necessária para manter a capacidade mínima de aeronaves de combate. Apenas 83 caças de nova geração Rafale estarão disponíveis em 2013 e em torno de 130 no final da década.
Um atraso no MRTT pode ser politicamente muito sensível, pois pode afetar a capacidade da França para reabastecer seus aviões de ataque nuclear.
FONTE: Aviation Week / TRADUÇÃO: Justin Case
Inverno de descontentamento para as forças militares europeias
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