Paulo de Tarso Lyra, de Brasília - Valor
O mistério sobre a venda dos caças ao governo brasileiro poderá ser desvendado apenas no próximo governo. Desde janeiro o ministro da Defesa vem prometendo a entrega final dos estudos, mas o governo chegou à metade do último ano de mandato sem uma definição.
O parecer técnico da Aeronáutica - refeito para que o francês Rafale fosse considerado o mais adequado, como queria o governo brasileiro - continua sob análise no Ministério da Defesa, sem previsão de ser encaminhado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula, diante do tamanho do negócio - € 5 bilhões - já confirmou que vai convocar o Conselho Nacional de Defesa para analisar a proposta. A decisão política não significará que o assunto estará resolvido: após o aval, terão início as negociações comerciais.
Uma fonte ouvida pelo Valor e que teve acesso ao relatório técnico da Aeronáutica lembra que, em cada proposta feita pelos governos francês, sueco e americano, foram acrescentadas uma série de questionamentos, levando-se em conta que todas as sugestões iniciais eram frágeis. "A decisão de Lula significa uma mera autorização para que a Aeronáutica, o Tesouro Nacional ou outro agente envolvido iniciem as negociações com a fabricante dos caças", confirmou um integrante do governo que acompanha as negociações.
O impasse na compra dos caças para a Força Aérea Brasileira (FAB) teve início durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, que deixou a decisão para Lula. O tema estava praticamente parado até 7 de setembro do ano passado quando, após o desfile militar em comemoração à Independência do Brasil, Lula anunciou, ao lado do presidente francês, Nicolas Sarkozy, que a decisão política estava tomada e que o país iria adquirir os caças franceses.
As palavras de Lula deram início a uma corrida comercial dos demais governos. Os suecos da Saab e os americanos da Boeing revisaram suas propostas. A exemplo dos franceses, sinalizaram com a possibilidade de transferência de tecnologia ao Brasil. Em março, durante audiência no Senado, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, prometeu que apresentaria o parecer da pasta a Lula em 20 dias. O prazo expirou há muito e, no momento, Jobim está de férias. Só volta ao trabalho no dia 14 de julho.