Atletas de alto rendimento se integram às Forças Armadas para a competição no ano que vem
Claudio Nogueira - O Globo
Continência, ordem unida, marcha, posição de sentido... Até pouco tempo, esse vocabulário nem passava pela imaginação de Regiane, ponta do Unilever/Rio de Janeiro e que atuou pela seleção brasileira, nos Jogos Pan-Americanos Rio-2007. Agora, um ano antes da realização, no Rio, dos Jogos Mundiais Militares, de 16 a 24 de julho de 2011, a atleta é a sargento Regiane Bidias, do Exército Brasileiro.
— Eu e outras atletas entramos para o Exército pouco depois das finais da Superliga de Vôlei (em abril) e fizemos a instrução militar — conta.
Ela não foi a única atleta de vôlei no Exército. Também estão Fernanda Berti, Juciely, as gêmeas Michelle e Monique, Camila Adão, Fernanda Garay, Veridiana, Ana Cristina, Deise e Natasha.
— É uma seleção brasileira e vamos ter muito trabalho nos Jogos Militares — imagina Regiane.
— Atletas de alto nível de vários países virão mostrar um bom desempenho, e para nós brasileiros, será um ensaio para as Olimpíadas de 2016. Pelo fato de os Jogos Militares serem no Brasil, nossa responsabilidade de alegrar o povo brasileiro é maior.
Segundo ela, os atletas souberam da possibilidade de se integrar às Forças Armadas por um edital no começo do ano. Dos atletas, eram exigidas participações em torneios importantes.
— Fizemos instrução militar, aprendemos a atirar com pistola e com fuzil. Acho que isso foi o mais difícil, porque eu nunca havia atirado, e eu sentia medo. Mas isso foi só no começo — relata Regiane, que ri quando se comenta o quanto fica diferente fardada.
— Com certeza, a farda faz diferença.
Quando você veste um traje civil ou roupa de treino, está à vontade, mas com a farda, tem de manter a postura. Por exemplo, se você tiver de segurar qualquer objeto, é sempre com a mão esquerda.
Goleadora agradece apoio
O judoca João Gabriel Schlittler, da seleção brasileira, é do Exército. Ao contrário de outros atletas, já estava nessa arma há mais tempo, desde 2004. De certa forma, tornou-se cicerone de atletas que se integraram às Forças.
— Para mim, foi algo natural, porque já fazia parte também da seleção de judô. Para os que estão entrando, só muda o uniforme — diz.
Grandes atletas de diferentes modalidades estão espalhados pelas três Forças Armadas brasileiras.
Na Marinha, está Daniele Batista, do futebol do Vasco (conveniado com a Marinha) e da seleção brasileira bicampeã mundial militar 2009/2010. Na sua opinião, com este apoio, ela e suas companheiras têm uma excelente estrutura para treinos e competições.
— Temos a estrutura que necessitamos para treinar. Com isso, os resultados aparecem.
Assim conseguimos nos manter num alto nível que nos ajuda a obter títulos. Temos um grupo forte e muito bem selecionado, comissão técnica, apoio médico e de fisioterapia e alimentação — afirmou Daniele, autora do gol do bi. — Aquele gol representou muito.
Sou uma atacante e todos os gols são importantes. Um gol numa final de Mundial, então, nem se fala. Coroou um trabalho de três meses, de muito esforço. Graças a Deus, fiz o gol da final e ajudei a seleção.
Para o ano que vem, Daniele espera dar sequência ao bom trabalho e quer se manter em forma para estar no grupo: — Nosso objetivo representando o Brasil num evento deste porte, em casa, é o ouro. Não é fácil, pois existem outras ótimas seleções, mas acreditamos que somos capazes de dar esta alegria aos brasileiros.
Espero que com mais essa competição, o futebol feminino brasileiro se fortaleça e que apareçam clubes, atletas e patrocinadores.
Em junho do ano que vem, seis mil atletas de 110 países tomarão parte nos Jogos, em 20 esportes. A delegação brasileira reunirá 649 integrantes (atletas e comissões técnicas), sendo 219 da Marinha; 369 do Exército; 55 da Aeronáutica e seis da PM e do Corpo de Bombeiros.
O objetivo do Brasil é o de ser um dos três primeiros no quadro de medalhas. Os locais de competição incluem: Engenhão, São Januário, Escola Naval, Maria Lenk, Maracanãzinho, Arena Multiuso, Praia de Copacabana e instalações militares. Resende vai sediar o paraquedismo. O programa de voluntários será aberto pelo site www.rio2011.mil.br