Angela Pimenta - Exame
Segundo interlocutores próximos do presidente Lula, ele anda desapontado com o governo do presidente francês Nicolas Sarkozy. E tal decepção pode vir a atrasar ainda mais o anúncio oficial, antes dado como certo, da compra dos caças franceses Rafale para a Aeronáutica.
Seriam três as razões para a decepção de Lula — duas de ordem diplomática e a terceira de ordem técnica.
A primeira seria a “traição” da França à política externa brasileira na votação a favor de sanções diplomáticas ao Irã no âmbito do Conselho de Segurança da ONU. Apenas o próprio Brasil e a Turquia votaram contra as sanções, no último mês de junho. Lula e o chanceler Celso Amorim esperavam que se não votasse contra as sanções, ao menos que a França se abstivesse e não votasse contra. Mas isso não ocorreu.
Já a segunda razão tem a ver com a falta de ajuda francesa para que o Brasil e o Mercosul consigam fechar um acordo de livre comércio com a União Europeia. O maior obstáculo para o acordo tem sido a manutenção dos subsídios agrícolas europeus. E mais uma vez nesse quesito, a última rodada de negociação entre os dois blocos, feita em junho na Argentina, não resultou em avanço.
Note-se que durante os quase oito anos do governo Lula, o Brasil só fechou um acordo de livre comércio, com Israel, e ainda sim também no âmbito do Mercosul.
Finalmente, o terceiro motivo tem a ver com o alto índice de componentes americanos no caça francês, além do sistema americano de navegação GPS.
Como se sabe, na briga pela venda de caças ao Brasil, além do Rafale, fabricado pela Dassault, estão também o sueco Gripen NG, da Saab, e o americano F/A-18 Hornet, da Boeing. Trata-se de uma compra estimada em 5 bilhões de dólares.
De acordo com o Ministério da Defesa, depois de um relatório com mais de 30 000 páginas confeccionado no início do ano sobre os três aviões, o ministério ainda deverá entregar um parecer final ao presidente Lula.
O próximo passo seria Lula convocar o Conselho de Defesa Nacional para apreciar e opinar sobre o parecer da Defesa. Só então o presidente tomaria a decisão final. Trocando em miúdos, existe a chance que o anúncio seja feito apenas pelo sucessor (a) de Lula no Planalto.
E mesmo depois de tomada a decisão, começaria então uma nova fase de negociação com o vencedor da disputa, envolvendo a Força Aérea Brasileira e o Tesouro Nacional.