Ancara convoca embaixador e suspende exercícios militares conjuntos com israelenses, em resposta ao ataque a navio turco
ANCARA - O Estado de S.Paulo
O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, acusou ontem Israel de praticar "terrorismo de Estado" depois que soldados israelenses mataram pelo menos dez ativistas a bordo de um navio turco que levava ajuda humanitária à Faixa de Gaza. "Essa ação é totalmente contrária aos princípios da lei internacional. É um terrorismo de Estado desumano. Ninguém deve pensar que ficaremos quietos diante disso", disse Erdogan.
A Turquia convocou seu embaixador em Tel-Aviv para consultas. Ancara também pediu uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, da Liga Árabe e da Otan, além de ter suspendido exercícios militares conjuntos com os israelenses. O congelamento da relação entre os dois países deve privar Israel de um importante aliado no mundo islâmico.
Outra reação bastante aguardada era a de Hosni Mubarak, presidente do Egito, país que faz fronteira com Gaza e colabora com o bloqueio israelense. Em comunicado, Mubarak condenou "o excessivo e injustificado uso da força contra civis inocentes". Ele expressou apoio aos palestinos, mas não disse se o governo egípcio manterá o bloqueio ao território.
Governos de países árabes moderados, aliados de Israel, também condenaram o ataque. A Jordânia classificou a ação de "crime abominável". O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa,descreveu a operação como "um ato terrorista". O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, também criticou os israelenses. "O que Israel cometeu foi um massacre", disse Abbas, que declarou três dias de luto oficial.
Entre os membros do Conselho de Segurança da ONU, as reações mais duras vieram de França, Rússia e China, que pediram o fim do bloqueio a Gaza e uma investigação independente sobre a tragédia. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, condenou o "uso desproporcional de força". Paris convocou o embaixador de Israel para pedir explicações. A Rússia usou uma linguagem mais dura, afirmando que a operação foi "uma grosseira violação do direito internacional".
A China seguiu uma linha parecida. "Estamos chocados pelo ataque israelense", afirmou o portavoz da chancelaria Ma Zhaoxu, que pediu a Israel que acate as resoluções já aprovadas pela ONU para reduzir o impacto humanitário em Gaza.
Até a Grã-Bretanha, que costuma refletir a moderação dos EUA, falou grosso com Israel. "Está mais claro do que nunca que as restrições em Gaza têm de ser levantadas, tal como exige a resolução 1860 do Conselho de Segurança", afirmou o representante britânico no Conselho de Segurança, Mark Lyall Grant.
O grupo The Elders (Os Anciãos), formado por Nelson Mandela, em 2007, também condenou o ataque. Em reunião na África do Sul, no fim de semana, a associação de notáveis, que inclui o expresidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, o arcebispo sul-africano Desmond Tutu e o expresidente americano Jimmy Carter, qualificou o bloqueio a Gaza como uma "das mais graves violações de direitos humanos" da atualidade. "A operação dos israelenses é indesculpável", disse ontem Tutu.
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A POSIÇÃO DO BRASIL
O governo brasileiro demonstrou ontem "choque e consternação" com o ataque de Israel e anunciou que convocou o embaixador israelense no País, Giora Becher, para manifestar "indignação" com o incidente. O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim considerou "muito grave" o ataque. "É algo que realmente necessita de algum tipo de ação da ONU", afirmou ontem em Brasília. O Itamaraty informou que um diplomata da embaixada brasileira em Israel foi enviado para a região onde os manifestantes estão detidos.
Revolta em Ancara
RECEP TAYYIP ERDOGAN - PRIMEIRO-MINISTRO TURCO
"Deve-se deixar claro que não vamos permanecer em silêncio diante desse ato inumano de terrorismo de Estado"