O mar deverá ser o palco da mais acirradas batalha entre Itália e França pelo mercado brasileiro de defesa. A peleja será travada em torno dos planos da Marinha de comprar de três a cinco grandes fragatas, com custo ao redor de US$ 500 milhões por unidade. Também devem fazer parte da encomenda outros 14 navios de patrulha de médio porte, ao preço médio de US$ 100 milhões cada.
Somando-se todos os custos com fabricação, sistemas, armas,munição, treinamento e manutenção, o custo total deve superar US$ 5 bilhões ao longo dos anos. Segundo uma fonte militar, a tendência é de que a força naval faça uma escolha internamente ao invés de abrir uma concorrência externa. A operação deve ser anunciada até o final do ano.
Tanto franceses quanto italianos planejam oferecer à Marinha um novo e avança do tipo de navio conhecido como Fremm, sigla para Fregata Europea Multi-Missione. Trata-se de um projeto conjunto entre os dois países para uma embarcação que consiga executar ao mesmo tempo missões contra aviões, submarinos e outros navios. Com armamentos avançados, sonares de última geração e um design que oferece baixa visibilidade ao radar, a Fremm é considerada um dos conceitos navais militares mais importantes dos últimos anos.
A diferença entre as duas ofertas estará no preço e na origem dos equipamentos. Se a França levar a melhor, os navios serão feitos pela fabricante Armaris, com sensores locais. Caso os italianos vençam a encomenda, as fragatas serão inicialmente construídas pelos estaleiros Fincantieri — e posteriormente em instalações nacionais—e equipados com sistemas eletrônicos e de armas da Selex Sistemi Integrati, que pertence ao grupo Finmeccanica. ―O Fremm é um excelente projeto. É simples e pode ser facialmente adaptado às necessidades de cada país devido à sua construção modular.
Os novos navios são parte fundamental do projeto da Marinha de proteger as plataformas que irão extrair o petróleo da camada pré-sal e patrulhar a região de entrada do rio Amazonas, que deverá receber uma nova esquadra – cuja a base está sendo disputada por diversos estados da região, especialmente o Maranhão e o Pará. A expectativa dos militares é que o próprio combustível vindo do fundo do mar ajude a financiar as compras navais. Com as aquisições, ―o Brasil se consolida como o país mais quente do setor naval no momento, segundo o gerente regional da fabricante de peças de artilharia e blindados Oto Melara, Gianfranco Pazienza.
Domínio francês
O sistema que protegerá a região conhecida como Amazônia Azul será complexo: vai processar em um centro, em tempo real, as informações vindas de radares instalados ao longo da costa, a bordo de navios, aviões, helicópteros e plataformas de petróleo, e talvez até mesmo de satélites. O objetivo da Selex Sistemi Integrati é criar uma infraestrutura onde os dados vindos de todas essas diferentes plataformas – com equipamentos de vários países diferentes – conversem entre si e sejam oferecidos aos operadores de modo unificado.
―Podemos fazer os radares propriamente ditos em conjunto com outras empresas da Finmeccanica, ou então fazer a integração de informações. A opção fica a cargo dos clientes, finaliza Marina.
Canhão embarcado usa munição inteligente
Os canhões embarcados também fazem parte da oferta italiana. O destaque vai para as torres com peças de artilharia fabricadas pela Oto Melara. São canhões de fogo rápido
— a cadência é de até 2 disparos por segundo —, os únicos modelos no mundo com sistema de munição inteligente. O modelo Dart coloca aletas de direção nos projéteis, que podem então ser guiados contra alvos, além de oferecem uma defesa contra ataques de foguetes. Na prática, o sistema transforma a munição em pequenos mísseis, como explica o gerente regional Gianfranco Pazienza.“Ferrari dos torpedos” é a arma secreta dos italianos no oceano
Mísseis antinavio também fazem parte do pacote oferecido para as novas fragatas brasileiras
A área de torpedos é considerada estratégica pelos italianos para tentar afundar a predominância francesa na marinha brasileira. A ideia é que, com a compra dos novos submarinos franceses Scorpène, o Brasil terá que modernizar seu estoque de armas, atualmente baseado em modelos americanos já obsoletos. A grande aposta da Whitehead Alenia Sistemi Subacquei (WASS) é o torpedo pesado Black Shark, definido como ―a Ferrari dos torpedos pelo diretor Renzo Lunardi.
―É uma arma que usa sistemas de sonar passivo até a poucos quilômetros do alvo, então não pode ser detectada até que seja tarde demais, afirma.
O potencial financeiro do negócio é elevado: o preço por unidade está em torno de € 2 milhões.
Multiplicando as cerca de 20 unidades que serão necessárias para uma frota de oito submarinos, chegase ao total mínimo de 160 torpedos para o Brasil, sem contar os que serão utilizados nos navios e os que ficarão em estoque. Uma eventual encomenda não sairia por menos de € 500 milhões.Armamentos navais também são o foco da oferta que outra empresa do grupo, a MBDA, pretende fazer ao Brasil. Uma das três grandes companhias globais na área de mísseis, a MBDA vê na expansão da frota brasileira uma oportunidade de ampliar sua presença no mercado sulamericano, onde já está presente na Argentina, no Peru, na Venezuela e no Equador. O próprio Brasil usa atualmente os
mísseis antiaéreos Aspide, fabricados pela até então Selenia.―Mas agora queremos entrar no mercado dos mísseis antinavio, especifica o consultor Giuliano Cottini. O objetivo é vender os modelos Otomat, de longo alcance, lançado por navios, e as unidades leves do tipo Marte, disparados a partir de helicópteros. Mais uma vez, porém, os italianos terão que superar a concorrência francesa, que já opera na marinha brasileira com os modelos Exocet.